20 de set. de 2011 | By: @igorpensar

Crianças diante do Criador

Por Igor Miguel


Não quero que meus filhos brinquem que Deus é um ser imaginário, fruto do acaso e da decepção com o tempo.   Quero que brinquem com Deus mesmo, que rolem no chão ao rirem de suas proezas, chorem desnudados diante de sua absoluta pureza e se emocionem com sua habilidade em confundir as probabilidades.

Quero vê-los correndo sobre grama verde e sentirem o vento como um hálito soprado por Deus.  Que sejam tomados de assombro quando os relâmpagos rasgarem os céus em estrondoso e tardio trovão.   Quero que sejam visitados por sua presença em noites silenciosas, sintam as letras do Livro Sagrado cuja sacralidade procede de seu admirável conteúdo.  

Gostaria de me ver em meus filhos rompendo em olhar curioso o rumo das gaivotas, e cheios de senso de sentido, perguntarem o destino da revoada.  Que eles lancem os olhos em noite escura para um céu infestado de estrelas exibidas, brincando de ligação de pontos, procurando por ordem ao que parece arbitrário e aleatório.

Que meus filhos se deixem encantar.  Que sejam cheios de gratidão por verem um mundo tão excitante e tão cheio de vida.  Mesmo no drama da dor e da perda, que saibam dar graças, pois mesmo a perda e a morte não podem dar cabo da vida que ainda floresce.

Que juntem mãozinhas em sinal de gratidão e digam com toda doçura: "papai do céu."  Que vejam no "papai deles", este sujeito trôpego e vacilante, o olhar que o Senhor do Tempo lhes dirige, mesmo quando ele - o pai deles -  não pode mais vigiá-los.

E que finalmente, se descubram maculados e percebam, o mais cedo possível, que nasceram com defeito.  Que não podem muitas coisas, que são egoístas, iracundos, ressentidos e ambiciosos.  Que descubram rápido que o vaso é belo, mas está trincado.   E finalmente, ao serem tomados pela vergonha de sua própria condição... que possam correr para a cruz.  E lá, ao abraçarem o Filho com fé inabalável, que se encontrem com o verdadeiro Pai, com Aquele que verdadeiramente os amou.  E assim, quando já estiverem jovens e independentes, que corram sob grama verde, como no início, e voltem a ser crianças recém chegadas ao mundo... ao novo mundo que Deus inaugurou.
E Jesus, chamando uma criança, colocou-a no meio deles.   E disse: Em verdade vos digo que, se não vos converterdes e não vos tornardes como crianças, de modo algum entrareis no reino dos céus. (Mt 18:2-3).

5 comentários:

Anônimo disse...

Carissimo Igor!

Parabéns pelo texto. Uma reflexão que vai além das palavras. Você poetizou a realidade da vida em Deus através de uma bela e profunda oração.

Que meu olhar reencontre a cada a inocência que o cotidiano insiste em sequestrar...

Teologia e Adoração disse...

No comments! Awsome!

Eliana Pires. disse...

Lindo. Uma oração poética.

Unknown disse...

Sem palavras. Chorei!

slima disse...

De fato é um excelente querer. Resta-nos agir para devolvermos a Deus crianças assim.