30 de jul. de 2014 | By: @igorpensar

Liberdade e Tirania

Jean Baudrillard enuncia: na era pós-orgíaca, só resta repetição. Isto faz algum sentido. Testaram todos os limites, romperam todos os tabus, só restou post-coital tristesse. Claro, que em mundo de tanta liberdade, o pessoal iria sentir saudades do tempo de outrora. Não me surpreenderia, se diante da voz viril de um patriarca centralizador, a meninada vestida preto corresse como uma gazela saltitante para o curral da tirania. Por estas e outras, que mais uma vez, o evangelho nos educa, nos ensina: se você não se curvar diante do Crucificado, vai se curvar diante de um tirano inevitavelmente.
19 de jul. de 2014 | By: @igorpensar

Veritas

McGrath assevera que o termo "verdade" tem um sentido diferente nas Escrituras daquilo que é ensinado pela mentalidade iluminista. Nas escrituras, a "verdade" é uma grande narrativa, não pode ser compreendida fora de um drama pessoal e historicamente situado. A verdade cristã depende de um tipo de confiança existencial que emerge na relação com um Deus que se revela no tempo. Para a mentalidade iluminista, a verdade precisa ser supra-histórica, religiosamente neutra e supra-humana. 

A verdade cristã se encarnou, assumiu a imanência e a temporalidade em Jesus. Ela é pessoalmente encarnada na dramaticidade do tempo e da história. A verdade cristã é uma pessoa, revelada por uma narrativa inspirada e providenciada pelo Espírito Santo nas Escrituras. Verdade infalível e confiável, não por ser uma "verdade" abstrata sem as "contaminações" do tempo e da experiência, como temia o pensamento cartesiano. Sua infalibilidade e confiabilidade são testemunhadas pelo Espírito dos Profetas que ilumina o coração daquele a quem Deus quer se revelar (contribuição de Calvino para a teologia ocidental), uma verdade providencial. Sua verdade torna-se nítida na medida que nos relacionamos com a pessoalidade de Deus em Jesus Cristo. A verdade cristã é teimosamente encarnacional.
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Por Igor Miguel
14 de jul. de 2014 | By: @igorpensar

Israel e Palestina: considerações

Estive em Israel algumas vezes, em 2007, ganhei uma bolsa acadêmica para um curso no Museu do Holocausto (Yad Vashem) e na Universidade Hebraica de Jerusalém, na ocasião pude ver de mais perto a complexidade da relação palestino-israelense.  E depois, de algum tempo, adoto os seguintes princípios, que espero, ajudem algumas pessoas a se posicionarem a respeito desta complexa relação:

1) Antissemitismo (inimizade em relação aos judeus por razões étnicas ou religiosas) é anticristão, por alguns motivos:
  • O povo judeu é um testemunho histórico da veracidade das Escrituras;
  • O povo judeu é de onde emergiu Jesus Cristo;
  • Fere o princípio cristão básico de amor ao próximo.

2) O povo judeu,diferente de muitas comunidades do ocidente, tem uma prática cultural baseada na memória. Se para nós, em geral, o passado é algo facilmente esquecido, para os judeus, o passado é ritualizado e sua memória transmitida pelas gerações. Logo, eventos como o holocausto, a expulsão romana, e até mesmo o Êxodo Bíblico, são eventos sempre presentes na memória judaica. Isso é parte de sua cosmovisão, seja para bem ou para mal.

3) O holocausto é um evento com marcas ainda presentes na cultura judaica em geral. Assim, diante de inúmeras ameças da diáspora, que teve seu clímax nos campos de extermínio, não há outra opção para o povo judeu se não uma terra (nação) com autonomia política e militar. E não há outra opção em relação à civilização ocidental: não permitir que um novo holocausto aconteça, seja a que povo for.

4) Os judeus foram expulsos pelo imperador Adriano (por volta do II século d.C.) de seu território depois de um longo esforço militar fracassado para se libertarem da tirania do império romano. Então, considere este evento como algo com consequências históricas muito sérias. Não olhe para os problemas políticos relacionados aos judeus como um fenômeno apenas da modernidade, este é um erro crasso. Como disse,grande parte da mentalidade e expectativas judaicas têm raízes profundas em eventos pré-modernos.

5) Um cristão não pode ser considerado antissemita pelo simples fato de sustentar a teologia bíblica e cristã de que o título “povo de Deus” é uma exclusividade daqueles que se ligam a Deus por meio de Jesus Cristo. Por inúmeras razões teológicas, obviamente descartadas por judeus, cristãos insistem que não há eleição fora de Jesus. E, por esta razão, Deus não tem dois povos, mas apenas um: aquele que se liga a seu Messias Jesus (seja judeu ou gentio). Claro, que isto não implica em rejeição a tudo que Deus fez outrora com os profetas e patriarcas, ao contrário, em Jesus, Israel encontra toda sua plenitude. Considere ler o texto “Israel de Deus” de minha autoria, em que trato sobre o assunto.

6) Há marcas indeléveis nas práticas culturais e étnicas dos judeus que remetem a revelação de Deus na Bíblia Hebraica (Antigo Testamento). Isto não pode ser ignorado por cristãos quando pensam em um posicionamento em relação aos judeus e ao moderno estado judaico.

7) Um cristão pode discordar dos métodos militares e políticos como o estado moderno de Israel se organiza ou foi estabelecido, e isto não implicaria necessariamente em antissemitismo. Porém, deve ser cuidadoso, pois muitas vezes um sentimento antissionista oculta um sentimento antissemita. Este último é pecaminoso, enquanto aquele pode ter apenas razões políticas, e no quesito político o debate ainda está aberto. Porém, antes de se posicionar como antissionista, ou seja,como alguém que discorda do direito do judeu ter uma terra, pense se o que você tem não é uma posição crítica a algumas formas como o sionismo acontece, e não ao sionismo em si.

8) Cristãos podem discordar livremente de algumas formas como a política israelense acontece, desde que apresentem razões plausíveis para isto. Esta discordância não implicaria em antissemitismo. Israelenses podem agir de forma arbitrária e injusta, o que aconteceu, acontece e acontecerá. Eles não estão isentos de erros inerentes a seres humanos. A doutrina cristã da radicalidade do pecado em seres humanos não isenta ninguém, nem mesmo cristãos ou judeus, da possibilidade de corrupção e injustiça.

9) Muitos dos boicotes, oposições e discurso antissionistas que existem hoje,principalmente oriundos da esquerda política e da nova esquerda ocidental, estão carregados de sentimento antissemita. E simplesmente, ignora-se a complexidade cultural inerente a grupos claramente terroristas. O “hamás” e o “hezbolah” não são grupos 'revolucionários', são movimentos islamistas fundamentalistas que se valem de metodologias imorais para lograrem êxito em suas iniciativas. Não estão dispostos ao diálogo nem com seus pares.

10) Enfim, cristãos não podem “canonizar” o Israel moderno, e tornarem-se acríticos em relação a suas ações políticas e militares. Existe uma apoio acrítico por parte de alguns cristãos evangélicos por causa da influência da teologia dispensacionalista. Se não sabe o que é isto, pesquise sobre o assunto. Tanto palestinos quanto judeus têm o direito de viverem em paz, e penso, ambos tem o direito a uma nação e a uma identidade nacional. Não há soluções mágicas para a tensão entre Israel e Palestina, este é um conflito com raízes no passado, porém, criminalizar de forma arbitrária tanto israelenses como palestinos, pode incorrer em análises injustas da situação.

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Por Igor Miguel