23 de nov. de 2009 | By: @igorpensar

Pedagogia da Sabedoria: aprender a viver

Por Igor Miguel

Um texto foi aqui postado sobre "A Sabedoria para Além do Racionalismo", de fato, há no conceito de sabedoria hebraico, um elemento muito rico que pode ser explorado pela educação em sentido amplo. Como ainda vivemos em uma sociedade técnico-capitalista, pedagogias enraizadas no pensamento cartesiano, uma educação concentrada no racionalismo e no desempenho cognitivo, ainda possuem muito peso. Por outro lado, a concentração demográfica nas grandes metrópoles contíguo ao individualismo tão perturbador, provoca em educadores uma inquietante pergunta: não está na hora de uma educação que considere outros fatores da complexidade humana?

A educação concentra-se na inteligência lógica, no desempenho cognitivo, na habilidade técnica, por uma questão óbvia, atender uma demanda mercadológica. Os ídolos da modernidade são o mercado e a produtividade, naturalmente, a pedagogia e a atuação educacional se concentrará neste sentido: fornecer o máximo de estímulo tendo em vista a formação técnico-cognitiva.

A pedagogia tornou-se reducionista, tanto como a sociedade atual reduziu-se ao mercado e ao capital. Assim, como a esfera capitalista devora os outros aspectos da complexidade humana, inevitavelmente a educação deixou-se devorar por esta lógica. Como instituição pública, a escola, uma dimensão cada vez mais sujeita ao mercado, mensura seu desempenho a partir do mesmo paradigma.

A grande contradição é que há um falso discurso de que tudo na vida é sucesso financeiro e desempenho profissional. Por outro lado, os homens procuram estabilidade emocional, afetiva e social, uma realização subjetiva, que o mundo objetivo não consegue preencher.

Como lidar com esta contradição? Eis um terreno que a educação está distante. A pedagogia moderna não ensina os jovens a lidar com a complexidade da vida humana, não introduz seus aprendizes aos desafios e contradições da vida espiritual, da vida social e dos dilemas de um mundo cada vez mais truculento. O que se vê são jovens cada vez mais apegados a um reino de conforto e de "realizações digitais", do que sujeitos treinados para lidar com a vida social e com o mundo do convívio.

Não há uma educação orientada para o "homem", para os dilemas internos da vida humana, não há uma educação concentrada no plano vital, na responsabilidade social. É claro que não se pode generalizar. De fato há iniciativas aqui e acolá, que procuram desenvolver a solidariedade e convivência, mas a realidade em escolas públicas de periferia é nua e crua. Há um abismo monstruoso entre o que a escola promete e a realidade de se viver em comunidades excluídas.

A sabedoria hebraica pode ser inspiradora neste sentido. As "instituições comunitárias" (família, a comunidade religiosa, escolas, etc) são as grandes responsáveis por introduzir seus jovens à vida. Um pedagogia pela sabedoria, orientaria os jovens ao princípios do "saber viver", não somente a viver uma experiência lógico-matemática, mas à compreender os dilemas de sua vida afetiva, dando sentido aos próprios sentimentos, procurando meios para o desenvolvimento da convivência com o outro no mundo, considerando as relações humanas um universo de possibilidades desafiadoras.

Neste sentido, o elemento ético presta um serviço importante. Lidar com dilemas éticos pode ser muito elucidativo. De alguma forma, o que se vê são pais criando seus filhos privando-os de experiências desconfortáveis, são jovens entorpecidos pelo conforto, que não sabem sofrer e lidar com adversidades. Os efeitos de uma educação analgésica, pode trazer efeitos desastrosos a jovens que mais tarde estarão diante da vida em toda sua brutalidade, sem ferramentas adequadas para lidar com tais desafios.

4 comentários:

Paulo Dib disse...

Concordo plenamente com vc, primo!
O que temos hoje é uma exaltação total ao "ter" em detrimento do "ser", e isso abrange inclusive os bancos estudantis. Tudo aquilo que é ensinado é visando preparar o aluno para ser um excelente profissional, um excelente membro mantenedor do atual sistema individualista, egocêntrico e materialista. Temos jovens com um grande acúmulo de informações, mas sem preparo para raciocinar ou enfrentar situações adversas da vida (inteligência comportamental).

Inclusive já escrevi algumas postagens que permeiam o assunto, como meu último post que versa sobre a verdadeira felicidade, que não está em cifrões.

Abraços

@igorpensar disse...

Fala primo!

Li seu artigo! Muito bom, continue escrevendo, produzindo....

Obrigado pela visita!
Igor

J. Gilney disse...

Oi Igor! Sou professor da rede pública de ensino e de escolas particulares no DF. Gostei muito do ser artigo. Leciono desde 1995 e confesso que achava que a minha função era apenas formar "cabeções" e então me frustrava muito, principalmente nas escolas públicas, perceber que de uma sala de 45 alunos, apenas alguns se tornavam "cabeções", e os outros alunos, nas visão capitalista, estavam fadados ao fracasso. Existem escolas respeitadas aqui no DF e que possui lista de espera para se matricular um filho, e que no primeiro contato os pais, avisa que o objetivo maior da escola e treinar o filho para ser aprovado no vestibular da UNB. Sendo assim, os alunos do 6º ano já começam a fazer provas no modelo do vestibular. Hoje recolheço que a escola pode desempenhar uma papel maior na formação das crianças e jovens. A escola pode ensinar valores para que todos sejam filhos melhores, amigos melhores, vizinhos melhores, clientes melhores,estudantes melhores e por fim profissionais melhores. Gostaria de receber sugestões de leitura ou material sobre o assunto. Gostei dos seus ensinamentos na conferência bíblica em Taguatinga. Sou membro da igreja Manancial liderada pelo Pastor Vilaça.

@igorpensar disse...

Gilnei,

Suas preocupações são as mesmas de muitos professores. A educação não pode ser baseada na "informação", mas na "formação", o que significa que por trás de toda intervenção pedagógica há sempre um "modelo de homem" (antropologia filosófica). Não podemos apenas formar um ser "pensante", mas um ser "vivente". Integrado com o mundo, com as relações humanas, com a arte, afetividade, religiosidade, etc.

Minha dissertação de mestrado tem sido sobre este assunto. Não há literatura sobre o assunto em português. Um livro indicado é Wisdom and Curriculum (Sabedoria e Currículo) de Doug Blomberg. Um filósofo que tem feito um trabalho incrível de conscientização de que a educação deve migrar do "conhecimento para a sabedoria" é o filósofo da ciência Nicholas Maxwell (From Knowledge to Wisdom) http://www.nick-maxwell.demon.co.uk/