27 de mar. de 2014 | By: @igorpensar

Educar: fracasso & esperança

 Por Igor Miguel

 Crianças e adolescentes são relativamente previsíveis, em contextos de vulnerabilidade, as coisas tendem a ser mais tensas, mas nem por isso, são menos crianças e adolescentes.  Um educador pode perder a cabeça facilmente ante demonstrações tão explícitas de rebeldia e anomia.

Não poucas vezes, chego em uma sala de aula onde meus alunos estão subindo nas mesas, trocando socos uns com os outros, destilando aos berros um sofisticado repertório de palavrões e expressões de baixo calão. Claro, tudo com um tempero de completa indiferença em relação a presença do professor. Há aquelas reações clássicas, do tipo, o professor que se destempera, impõe de forma agressiva sua autoridade, e é fato, funciona pra caramba. O problema é o que se perde por meio desta forma de educar. Se perdem os vínculos, estes tão importantes no processo educacional.

As maiores experiências educacionais que já presenciei, emergiram de uma construção sutil e intencional de vínculos simbólicos e afetivos. Eu faço discípulos entre meus alunos, em algum sentido quero que eles criem um tipo de admiração pelo meu mundo, gosto de provocá-los, gosto que eles me vejam como alguém provocativamente estranho. Pois é para outro mundo que quero levá-los.

Há muita defesa em relação a cultura dos aglomerados, mas a verdade é que as vezes esta cultura se reduz a uma velha roda de samba, onde a maioria dos jovens não se envolve, ou a cultura comunitária de ajuda mutua, que é interessante.  Fora isso, a cultura predominante é de um ciclo de violência atroz, que aliena, perverte, abate e rouba a dignidade.  Ciclos de desespero e apatia.

Meus alunos chegam muitas vezes sem esperança, em sua maioria, o mundo lhes parece muito pequeno e apertado.   Por isso, chego como um louco em sala de aula.  Conto histórias de viagens que fiz, trago cantigas de quando fui escoteiro, cito histórias de poetas, mostro fotos de meu filho, falo sobre minha vida cristã, os amigos igualmente loucos com quem convivo, e faço algumas peripécias sonoplásticas , eles adoram!  E comemoro quando um aluno meu consegue fazer algo que ele jamais imaginaria que poderia fazê-lo.  Lhes dou o "troféu joinha" ou "trofeu nerdinho" (para os que me surpreendem de verdade).  E assim, vamos criando vínculos, confiança e enfim...

E a bagunça? Bem, as vezes, meu coração e meu corpo são assaltados por uma profunda alegria.  Gostaria que isso acontecesse com mais frequência.  Mas, é como uma graça divina e pedagógica, que me farta de uma intencional paciência e de docilidade nas palavras. E isso tudo, diante da pura manifestação do mal.  Sorrio, e digo: "Como você está hoje?"  Dou um carinho, nas cabeças raspadas, em um gesto quase paterno, digo: "Calma, tenha paciência, vamos fazer um professor feliz hoje!"  E geralmente, os ânimos vão se acalmando, até que se vejam capturados pelas atividades, em uma guerra silenciosa contra a alienação e a lonjura de Deus.  Tem dias que saio da sala de aula, impotente, me sentindo um fracassado, mas tem dias, que saio como se o próprio Jesus tivesse estado entre eles, ensinando, educando e anunciando seu Reino.

Acho que educador cristão é assim mesmo. Povinho mais esperançoso!  Pulam pra dentro de um mundo de indiferença, dispostos a morrer e adoecer por uma causa com poucas possibilidades aparentes de sucesso, e vão indo, derramando sua vida.  Acho que tem um mistério nesta coisa de "aparente fracasso", a cruz nos ensina muito sobre isso.  No final das contas, somos o povo da fé, da esperança e do amor.  Aos trancos e barrancos com nossas fraquezas, mas confiantes, de que pela graça, Cristo estará sempre lá, abrindo janelas para um mundo completamente novo.
25 de mar. de 2014 | By: @igorpensar

Trindade: mitos de seus opositores

1) A Trindade é uma doutrina de homens.
R.: Não há doutrina divina que não passe pela interpretação humana. Deus quis que fosse assim, por isso, disse que o Espírito nos guiaria a toda verdade. A interpretação sempre esteve no cristianismo desde seu nascimento. Lembra de Atos 8? O etíope não sabia o que estava no profeta, Felipe interpretou.

2) Trindade é uma palavra que não está na Bíblia.
R.: A palavra "Bíblia" também não aparece na Bíblia, mas usamos o termo para nos referir ao conjunto de obras que consideramos infalíveis e divinamente inspiradas. Um termo não bíblico, para se referir à Bíblia. Trindade é o "apelido" para uma série de verdades bíblicas, que se harmonizam, nos revelando a natureza de Deus.

3) Trindade é idolatria, politeísmo ou triteísmo.
R.: Jamais. A Trindade foi elaborada justamente para proteger a fé cristã de uma interpretação não-monoteísta. O arianismo, a primeira heresia a respeito da natureza de Deus, sustentava que Cristo era a mais elevada das criaturas, e que ele era o que havia de mais próximo da divindade. Por isso, uma "criatura divina". O que o colocava na condição de um "outro" deus, e pior um "deus criado". O que implicaria em um golpe direto nas incontáveis afirmações bíblicas sobre a unidade de Deus. Idolatria é adorar a criatura ao invés do criador. Foi nisso que deu a primeira tentativa de oposição à Trindade.

4) A Trindade é de origem pagã, pois em várias culturas pagãs encontram-se tríades (trios de deuses).
R.: Em todas estas culturas não há nada equivalente à afirmação trinitária de que a natureza destas divindades é única e indivisível. Ao contrário, cada uma das divindades que formam a tríade divina pagã, possuem natureza ou "seres" distintos. São três divindades. Afirmar isso, na trindade, seria heresia. Quando se fala "três" na trindade, não tem o mesmo sentido de quando se diz "um". No paganismo, a unidade é mero "sinergismo", e as divindades são diversificadas. No cristianismo, a unidade é essencial, a natureza divina é una e indivisível. Enquanto que nesta unidade divina, há uma diversidade de "personas" (pessoas), cada qual cumprindo uma função ou papel distinto na divindade. Logo, dizemos "três" em referência às distinções entre Pai, Filho e Espírito Santo. Mas, dizemos "um" quanto à divindade.

5) Mas, cristãos dizem "Deus Pai", "Deus Filho" e "Deus Espírito Santo", pra mim parece óbvio que são três deuses.
R.: Mais uma falha na compreensão da história e do desenvolvimento da doutrina cristã. Nenhum dos precursores na compreensão teológica da divindade na trindade, quando usavam a expressão "Deus" três vezes, pensavam em três divindades independentes. Pensavam, que os três compartilham de uma única natureza. Como disse Atanásio: "O Pai é Deus, o Filho é Deus e o Espírito Santo é Deus, mas não são três deuses." O uso triplo da expressão é apenas para expressar de forma didática que as pessoas da trindade compartilham de uma única natureza divina.

6) Vocês se isentam do debate sobre a Trindade, se escondendo atrás do argumento do "mistério".
R.: O argumento do mistério é uma questão de modéstia. A divindade em um sentido é inescrutável, mas quis se revelar por meio das Escrituras e por sua criação. Sendo estas as fontes que temos, podemos sim, vislumbrar e tirar algumas conclusões sobre o que Deus é e não é. Mas, não podemos tirar conclusões a ponto de esgotar a divindade. Em um sentido, Deus é mais do que a trindade pode explicar, mas em outro sentido, este Deus não pode ser menos do que isso.

7) A Trindade não é relevante para minha salvação.
R.: A Trindade não é meramente uma doutrina com implicações intelectuais. Ela é a narrativa ou história de como Deus se revelou e salvou os homens. Se Cristo não for plenamente divino, como Deus aplacaria o pecado? Se Cristo não for plenamente humano, que humanidade ele está salvando? Se o Espírito Santo não for plenamente divino, como podemos dizer que temos um relacionamento com Deus? Afinal, o Pai é exaltado, o Filho está a sua destra e tem a exclusividade da mediação com o Pai, e sendo nossa relação com Deus o Pai, em Cristo e no Espírito Santo. Seria impossível pensar em um relação com Deus fora do Espírito. E pior, se o Espírito Santo é mera energia impessoal, estamos lascados, pois nosso acesso à Cristo dá-se pelo Espírito Santo. E é inadmissível que uma "energia" seja nossa interface de contato com Cristo. Uma leitura cuidadosa de Efésios 1, pode-se ver que Pai, Filho e Espírito Santo, cooperam em uma harmoniosa obra para "eleger" (Pai), "redimir" (Filho) e "selar" (Espírito Santo). Então, tenha cuidado ao dizer que a Trindade não é relevante para a salvação.

Bem, desculpem, mas escrevi este texto depois de um café do Sul de Minas, precisava dar explicações para perguntas que são absurdamente frequentes. Revisarei o texto depois, vão lendo aí.

Autor: Igor Miguel 
17 de mar. de 2014 | By: @igorpensar

Cristianismo Total (BH)

Falaremos neste importante encontro organizado pela I Igreja Presbiteriana de Belo Horizonte, onde trataremos sobre a relevância da fé cristã em questões públicas, e  particularmente, a plausibilidade da teologia reformacional e suas implicações sobre a vida cristã na dimensão da cidade.  Informe-se!





#IgrejaNaRua na Rede Super

16 de mar. de 2014 | By: @igorpensar

Cristianismo Público (Goiânia)

Um dos maiores mitos que a cultura moderna impôs ao cristianismo é a doutrina secular de que a esfera pública é religiosamente neutra. Isto significaria que o cristianismo não poderia participar, interferir e nem emitir qualquer tipo de opinião em questões de natureza política, econômica, social ou científica. Por esta razão, em nossa era, cristãos são desafiados a defenderem a natureza pública de sua fé, sua plausibilidade e relevância. Não existe dimensão neutra, nem mesmo as ideologias políticas e a modernidade são religiosamente neutras. Sendo assim, o cristianismo deveria se posicionar com coragem sem cair nas tentações da segregação e do domínio.
 
Estaremos em Goiânia, no dia 29 de março, para falar sobre este tema urgente para cristãos contemporâneos.   Entrada franca, é só aparecer por lá.

10 de mar. de 2014 | By: @igorpensar

Viagem a São Tomé (África)

 
Depois de uma fascinante viagem para Moçambique ano passado, tive a alegria de ir a trabalho e missão a São Tomé e Príncipe, já lado ocidental da África Equatorial.  Segue o link do relato do trabalho que nossa ONG realizou, nesta Segunda Expedição Educacional em prol da transformação e educação de uma comunidade santomense. [Saiba mais]
8 de mar. de 2014 | By: @igorpensar

Infinitivo


Infinitivo

Conjugar é conjurar,
evocar verbos em versos.
Chamar o diverso do universo:
Um verso...
Dois versos...
Infinito declamar.
Enfim, sem fim, atemporal, supratemporal: eterno.
Com ar, no ar, infinitivo.
Pode ser substantivado.
Conjugar é conjurar, evocar, tornar finito.

Casa

Casa

Dentro, abraçado e ritos.
Familiar. Cada objeto, cada ser.
Estar, não é a sala, está nela.
Sorriso, suave, muito suave.
Bela e sutil, não enjoa.
Cheiro de bolo de fubá.
Café em caneco xadrez.
Livros que seduzem, convidam.
Desprezo-os, deixo-me seduzir.
Um cheiro levemente doce no cangote.
Em cada quina aroma, calor e luz de abajur.
Chuveiro quente e um livro.
Sala de estar, sala de ser. 

Casa.