30 de nov. de 2009 | By: @igorpensar

Bíblia Judaica Completa - David H. Stern

Prezados leitores,

Venho por meio desta anunciar que em breve teremos a Bíblia Judaica Completa do teólogo judeu David H. Stern publicado em língua portuguesa pela Editora Vida. Como se sabe a versão previamente publicada restringia-se ao Novo Testamento, logo após, a Ed. Atos publicou o comentário. A Ed. Vida dedicou-se a traduzir a obra completa em Inglês intitulada por Complete Jewish Bible. Espero que seja um obra iluminadora daqueles que apreciam as Escrituras Sagradas sob uma ótica oriental e judaica.

Vamos aguardar a publicação!

Abraços,
Igor


27 de nov. de 2009 | By: @igorpensar

Calvino e a Lei

AS INSTITUAS DE JOÃO CALVINO - LIVRO II - CAPÍTULO VII - PARÁGRAFO 14: "A LEI ESTÁ CANCELADA NO TOCANTE À MALDIÇÃO, NÃO A SEU MAGISTÉRIO".
"Portanto, visto que agora a lei tem em relação aos fiéis o poder de exortação, não aquele poder que ate suas consciências na maldição, mas aquele que, com instar repetidamente, lhes sacode a indolência e lhes espicaça a imperfeição, enquanto querem significar sua libertação da maldição, muitos dizem que a lei (continuo falando da Lei Moral) foi suprimida aos fiéis, não significando que não mais lhes ordene o que é reto, mas somente que não mais lhes é o que lhes era antes, isto é, que não mais lhes condena e destrói a consciência, aterrando-as e confundindo-as.
E, sem dúvida, Paulo não ensina obscuramente esse cancelamento da lei. Que esse cancelamento foi também pregado pelo Senhor, disso se evidencia o fato de que ele não refutou aquela opinião de que a lei teria sido abolida por ele, a não ser que essa idéia viesse a prevalecer entre os judeus. Como, porém, não poderia ela emergir ao acaso, sem qualquer pretexto, crê-se que ela se originou de uma falsa. Primeira edição: “Pelo que, isto não refiramos a uma era única: que Davi faz permanente na meditação da Lei a vida do homem justo ...” interpretação de sua doutrina, exatamente como quase todos os erros costumeiramente se arrimam na verdade. Nós, porém, para que não tropecemos na mesma pedra, distingamos acuradamente o que foi cancelado na lei e o que permanece firme até agora.

Quando o Senhor testifica que não viera para abolir a lei, mas para cumpri-la, até que se passem o céu e a terra não deixaria fora da lei um til sem que tudo se cumpra [Mt 5.17, 18], confirma ele sobejamente que, por sua vinda, nada seria detraído da observância da lei. E com razão, uma vez que ele veio antes para este fim, a saber, para que lhe remediasse às transgressões. Por parte de Cristo, portanto, permanece inviolável o ensino da lei, a qual, instruindo, exortando, reprovando, corrigindo, nos plasma e prepara para toda obra boa."
(grifo meu)
24 de nov. de 2009 | By: @igorpensar

Espiritualidade e Dinheiro

Por Igor Miguel

Em um mundo em que o poder financeiro é um ídolo, para uma pessoa que queira manter sua espiritualidade integrada com seu estilo de vida, é fundamental fazer uso de alguns princípios. Diferente do que muitos podem imaginar, não vou escrever sobre 10 passos para ficar milionário, 7 princípios para acumular tesouros ou 666 dólares para virar uma besta quadrada. O que proponho neste breve post é expor alguns princípios éticos, que pessoalmente adoto, para lidar com a dimensão financeira da vida sem tornar o "dinheiro" e o "consumo" ídolos.

Antes de tudo, digo princípios, pois diferente do que comumente ouve-se, o salvo procura uma vida de justiça, não para se justificar, pois a justificação dá-se pelos vínculos de fé com Cristo, e a salvação é exclusivamente por graça. Neste sentido, a teologia reformada é muito elucidativa.

Porém, o salvo continua no mundo e em constante conflito com os ídolos de seu tempo, sendo assim, a experiência da salvação traduz-se em missão ou na linguagem paulino-reformada, vocação.

A ideia de vocação tem raízes no "chamamento" de Israel, a teologia de Paulo é derivada de uma tradição anterior. A presença de uma nação livre da escravidão (Egito), envolveria algum tipo missão. A libertação não é só "de", mas principalmente "para". Este "para" fala de um "fim", de um "propósito", ou em grego um "télos".

A salvação é pela graça, mas a atuação do salvo, seu papel vocacional, envolve tornar-se "servo da justiça" (Rm 6), o que significa que a atuação do vocacionado pode ser iluminada pela lei, daí o conceito de teonomia* tão propalado por teólogos reformados, que pode ser definido como:

[...] Teonomia é a legislação inspirada por Deus, estabelecida em sua soberana lei da criação... A peculiaridade do Calvinismo é a ideia de que Deus é Senhor e o legislador de todos os homens. Esta ideia pode ser encontrada em Calvino, em sua percepção da vida cristã, quando disse: "nós somos propriedades de Deus, e não somos proprietários de nós mesmo", e "deixe a Sua vontade, então, ser a influência fundamental sobre todos os nossos atos"[...]**

O homem precisa abordar as coisas e o seres da criação segundo princípios da soberania de Deus. Uma relação desorientada, pode conduzi-lo a uma experiência de "apropriação" que é idólatra. A lei regula a relação do salvo com o mundo criado, ela evita o ascetismo, que priva o homem dos desafios das bençãos do mundo criado, mas também, o protege de um apego idólatra. A lei deixa claro, quem é criatura, criação e quem é o Criador. Este é um princípio ético do calvinismo muito próximo da abordagem dos judeus chassídicos da Europa no século XVII.

Então quais princípios "teonômicos" podem ser aplicados na relação do salvo com o dinheiro?

Segue uma sugestão, são princípios que me orientam neste sentido:

1) O dinheiro não pode se tornar um ídolo, Mamom não pode ter primazia sobre Cristo;
2) O dinheiro é meio e não fim;
3) O dinheiro deve prestar um serviço à vida humana e não um de-serviço, o que significa que brigas, discórdias, avareza e outros, não podem existir na vida de um cristão, se isso acontecer, o dinheiro é um ídolo a ser quebrado;
4) Imagine-se sem dinheiro, imagine-se lesado, se isto lhe causa algum desespero, ou passa pela cabeça abandonar a Deus por causa disso, o dinheiro é um ídolo, quebre-o;
5) Não é o dinheiro que te sustenta, mas Deus. Ele o fará como quiser, com dinheiro, com maná, com trabalho, como ele quiser.
6) Meu sustento não vem do meu trabalho, vem de Deus, que pode usar o trabalho para este fim;
7) Trabalhe porque é mandamento trabalhar, o trabalho é um culto, sendo assim o faça com diligência, criatividade e dedicação, o que vem não é resultado do trabalho, mas é graça de Deus. É mandamento "seis dias trabalharás"!
8) Não lide com o dinheiro como proprietário, mas como "gestor", "administrador", faça uso inteligente, mas lembre-se que a relação de "posse" é idólatra, o princípio bíblico é de "hospitalidade", tudo que desfrutamos de Deus é por "graça", a graça do anfitrião;
9) Não se encante com os produtos na vitrine, use roupas simples, compre um carro popular, ande de bicicleta, compre uma casa simples. Crie um equilíbrio entre "dignidade" e "modéstia". É possível viver uma vida de qualidade, com um bom café da manhã, sem ter o melhor carro, a melhor casa, etc. Economize!
10) Doe, seja generoso, doe sem limites. Dê o quanto o Senhor o mover para isso.

Esses são princípios que procuro viver, que regulam meu comportamento e minha forma de ver o mundo e as riquezas. Há outros princípios secundários, mas sem dúvida, se você elaborar uma lista de princípios você será iluminado com a "lei da liberdade" e não com a "autonomia" vendida pelo ocidente. Somente o salvo em Cristo pode desfrutar da liberdade da lei. Esses princípios poderiam ser recheados de referências bíblicas, mas nascem de um ethos judaico-cristão, de uma cosmovisão fundamentalmente monoteísta.
_____________
* Teonomia: Do grego theos (Deus) + nomos (lei).
** Geesink, William (1931) (in Dutch). Gereformeerde ethiek. Kampen. p. (pages unknown).

Ahmadinejad: o indesejável!

Um pessoa que nega uma das mais intraduzíveis barbáries da história da humanidade, não deveria jamais pisar em solo brasileiro. O holocausto não pode ser negado, questionado, deve ser lembrado para sempre, para ficar claro que o homem é o único que pode praticar a violência com requintes de "racionalidade". Isto me assombra! Como ouvi diretamente de uma pedagoga israelense no Yad Vashem (Museu do Holocausto): "- O problema não são os números. Lembre-se! Cada pessoa é um mundo".






23 de nov. de 2009 | By: @igorpensar

Pedagogia da Sabedoria: aprender a viver

Por Igor Miguel

Um texto foi aqui postado sobre "A Sabedoria para Além do Racionalismo", de fato, há no conceito de sabedoria hebraico, um elemento muito rico que pode ser explorado pela educação em sentido amplo. Como ainda vivemos em uma sociedade técnico-capitalista, pedagogias enraizadas no pensamento cartesiano, uma educação concentrada no racionalismo e no desempenho cognitivo, ainda possuem muito peso. Por outro lado, a concentração demográfica nas grandes metrópoles contíguo ao individualismo tão perturbador, provoca em educadores uma inquietante pergunta: não está na hora de uma educação que considere outros fatores da complexidade humana?

A educação concentra-se na inteligência lógica, no desempenho cognitivo, na habilidade técnica, por uma questão óbvia, atender uma demanda mercadológica. Os ídolos da modernidade são o mercado e a produtividade, naturalmente, a pedagogia e a atuação educacional se concentrará neste sentido: fornecer o máximo de estímulo tendo em vista a formação técnico-cognitiva.

A pedagogia tornou-se reducionista, tanto como a sociedade atual reduziu-se ao mercado e ao capital. Assim, como a esfera capitalista devora os outros aspectos da complexidade humana, inevitavelmente a educação deixou-se devorar por esta lógica. Como instituição pública, a escola, uma dimensão cada vez mais sujeita ao mercado, mensura seu desempenho a partir do mesmo paradigma.

A grande contradição é que há um falso discurso de que tudo na vida é sucesso financeiro e desempenho profissional. Por outro lado, os homens procuram estabilidade emocional, afetiva e social, uma realização subjetiva, que o mundo objetivo não consegue preencher.

Como lidar com esta contradição? Eis um terreno que a educação está distante. A pedagogia moderna não ensina os jovens a lidar com a complexidade da vida humana, não introduz seus aprendizes aos desafios e contradições da vida espiritual, da vida social e dos dilemas de um mundo cada vez mais truculento. O que se vê são jovens cada vez mais apegados a um reino de conforto e de "realizações digitais", do que sujeitos treinados para lidar com a vida social e com o mundo do convívio.

Não há uma educação orientada para o "homem", para os dilemas internos da vida humana, não há uma educação concentrada no plano vital, na responsabilidade social. É claro que não se pode generalizar. De fato há iniciativas aqui e acolá, que procuram desenvolver a solidariedade e convivência, mas a realidade em escolas públicas de periferia é nua e crua. Há um abismo monstruoso entre o que a escola promete e a realidade de se viver em comunidades excluídas.

A sabedoria hebraica pode ser inspiradora neste sentido. As "instituições comunitárias" (família, a comunidade religiosa, escolas, etc) são as grandes responsáveis por introduzir seus jovens à vida. Um pedagogia pela sabedoria, orientaria os jovens ao princípios do "saber viver", não somente a viver uma experiência lógico-matemática, mas à compreender os dilemas de sua vida afetiva, dando sentido aos próprios sentimentos, procurando meios para o desenvolvimento da convivência com o outro no mundo, considerando as relações humanas um universo de possibilidades desafiadoras.

Neste sentido, o elemento ético presta um serviço importante. Lidar com dilemas éticos pode ser muito elucidativo. De alguma forma, o que se vê são pais criando seus filhos privando-os de experiências desconfortáveis, são jovens entorpecidos pelo conforto, que não sabem sofrer e lidar com adversidades. Os efeitos de uma educação analgésica, pode trazer efeitos desastrosos a jovens que mais tarde estarão diante da vida em toda sua brutalidade, sem ferramentas adequadas para lidar com tais desafios.
17 de nov. de 2009 | By: @igorpensar

Reformado? Emergente? Judaico?

Por Igor Miguel

Sei da pergunta inevitável, andam me mandando e-mails a respeito, sua pergunta é: que blog é esse? Reformado? Emergente? Judaico? Marxista? Liberal? Teológico? Educacional? O que você produz definitivamente neste blog?

Existem blogs que são explicitamente religiosos, pois assumem uma linguagem religiosa e um conteúdo de natureza explicitamente teológica. Porém, de forma alguma digo com isso que meu blog não seja de conteúdo teológico, ou que apresenta um conteúdo implícito, subliminar, neutro, ou coisa do gênero. De fato não! Não há um meta-discurso neste blog, há é um discurso claro, em linguagem clara, em termos que o mundo cultural compreenda.

Não há neutralidade religiosa, meu blog é explicitamente cultural, e religioso na medida em que pressupostos da minha visão de mundo iluminam ações reais em um mundo real.

Os conteúdos aqui são iluminados por uma filosofia judaico-cristã, cujos princípio filosóficos pré-modernos, iluminam minha atuação política, educacional, intelectual e cultural.

Onde localizo as fontes da minha cosmovisão? Primariamente nas Escrituras Sagradas, fonte de toda inspiração e revelação. Daí, derivam percepções e tradições interpretativas que iluminam sua prática. Recorro à tradição judaica, em específico, os ecos desta tradição na tradição talmúdica, midráshica e targumica. Para mim, ignorar os fundamentos judaicos do cristianismo é um anacronismo, o que não se traduz em "judeulatria" ou algum tipo de "etnocentrismo teológico", ao contrário, o cristianismo é enriquecido a partir desta perspectiva e há muita gente pensando sobre isso há alguns anos: James Parkes, Oscar Skarsaune, W.D. Davies e outros. Tradição que considero de fundamental importância.

Por outro lado, posso dizer que nos últimos 4 anos, tenho recebido boa influência da percepção de mundo neo-calvinista, sob os auspícios de Abraham Kuyper, Herman Dooyweerd, Nicholas Wolterstorff e outros. Esta é uma tradição que dialoga em muito com a ética judaica, principalmente aquelas traduzidas em termos modernos como Martin Buber, Franz Rosenzweing e Abraham Joschua Heschel, porém com um elemento importante, Jesus Cristo.

Não poderia deixar de mencionar, que há algo em específico, um tendência teológica latina que me apaixona toda vez que me aprofundo sobre o tema. Refiro-me a proposta exposta por Rene Padilla [excetuando sua dependência do materialismo-histórico] chamada: missão integral. Um conceito de que a evangelização está comprometida com um evangelho pleno, integral e expansivo, me apaixona, borbulha em meu coração. Qualquer tentativa de percepção do evangelho que o coloque na condição devida, no status que lhe cabe, me interessa.

Não acredito em revelação sem teologia e teologia sem tradição, lemos a Bíblia a partir do que já foi lido. E muita coisa dita "nova", brota de uma ação dialeticamente dirigida pelo Espírito a partir de determinada tradição. Estas são combinações que me interessam.

Enfim, todo conteúdo deste blog é orientado por uma tradição que se dividiu e deve se reconciliar. Por um lado a tradição cristã, que deve em muito a Agostinho, Calvino e Kuyper, por outro judaica, que deve em muito ao farisaísmo, hassidísmo, Buber, Rosenzweing and Heschel, e isto não é pós-moderno, é a delimitação devida a minha atuação como discípulo de Jesus Cristo, sabendo lidar com a tradição de forma dinâmica e aberta, até que cheguemos à unidade da fé. Até que a conversão do coração dos filhos aos pais e dos pais aos filhos, seja uma realidade.
10 de nov. de 2009 | By: @igorpensar

O idólatra e o monoteísta


O idólatra:
- está pronto!

O monoteísta:
- tenho que pensar...

O idólatra:
- te tenho.

O monoteísta:
- quero te compreender.

O idólatra:
- te vejo.

O monoteísta:
- sou visto por Ele

O idólatra:
- este é o meu deus.

O monoteísta:
- meu Deus é.

O idólatra:
- meu deus é sagrado.

O monoteísta:
- o meu Deus é santificador.

O idólatra:
- eu provo que meu deus existe.

O monoteísta:
- meu Deus está acima de qualquer prova.

O idólatra:
- o meu deus me dá tudo que quero.

O monoteísta:
- o meu Deus me dá tudo o que Ele quer.

O idólatra:
- o meu deus manda chuva.

O monoteísta:
- o meu Deus manda no seu deus.


Autor: Igor Miguel