26 de abr. de 2013 | By: @igorpensar

Defesa Dissertação do Mestrado

Prezados leitores,

Este é um convite aberto a todos que queiram comparecer à defesa de minha dissertação de mestrado, que acontecerá no dia 5/6 no prédio da Administração da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH/USP).   Maiores informações sobre horário e local pode ser acessado aqui: http://www.pos.fflch.usp.br/node/38905

Tema:
Mischlei e Mediação Educacional: uma análise pedagógica de Provérbios de Salomão

Orientador:
Profa. Dra. Ana Szpiczkowski

Banca:
Profs. Drs. Reginaldo Gomes de Araújo (FFLCH - USP) e Mitsuko Aparecida Makino Antunes (PUC-SP).


Abraços,
Igor Miguel





17 de abr. de 2013 | By: @igorpensar

Evangelho na Perifa

 Por Igor Miguel


Sou educador e lido com crianças e adolescentes em situação de risco e vulnerabilidade social todos os dias úteis há quase três anos.  Dentre muitas coisas que aprendemos sobre a periferia, como o tráfico, a violência, a pobreza e o abuso, também aprendemos sobre como a visão de Deus, a religião e a fé são temas muito presentes nestes contextos.

Todos que já trabalharam como voluntários ou educadores em comunidades deste perfil, já perceberam o número impressionante de crianças e adolescentes que se afirmam cristãos evangélicos.  Porém, algo que já percebia nas comunidades evangélicas de classe média, acabei encontrando, com um pouco mais de expressividade, dentre estes de aglomerados e complexos da Grande Belo Horizonte.

Nitidamente, comecei a perceber um tipo de evangelicalismo placebo, algo bem comum e familiar a todos nós: aquele tipo de crente que tem um linguajar peculiar, reproduz determinadas expressões e trejeitos muito comuns na maioria das igrejas evangélicas.   É predominante, em tais meios, um tipo de visão de mundo afetado por demônios, batalhas espirituais, com tempero de teologia da prosperidade e uma pitada de auto-ajuda e por aí vai.

Se a coisa anda meio complicada nas comunidades centrais, nas periféricas vemos a face mais sombria disso tudo.  Lá, eles reproduzem o que algumas igrejas centrais produzem, porém, muito mais estereotipado, chega ser meio trash e perturbador.

Mas, Igor, você está sendo um pouco intolerante, não?  Que nada, agora que vou mostrar minha verdadeira intolerância.  Então segura negada!

Pois é, o lance é o seguinte, o que vejo nestas comunidades é algo muito mais sombrio.  Vejo uma igreja evangélica “desevangelizada”.  Simplesmente, não há evangelho lá.  Há uma outra coisa, um teatro, um tipo de emocionalismo de massa travestido de linguagem gospel.  E sinceramente, acho tudo isso aterrorizante, sombrio e alarmante.

Um dia, fui convidado para falar a respeito da páscoa para um grupo de crianças e adolescentes de um determinado aglomerado.  Então lá fui eu.  Preparei um vídeo, na verdade um animê, que reproduz a crucificação na perspectiva do “ladrão da cruz”, que se converteu.  Mas antes de exibi-lo, quis introduzir a temática da páscoa, crucificação e ressurreição.  Caí na boa “besteira” de fazer algumas perguntas para curto-circuitar cérebros e espíritos cativos de uma mistura de “eu quero tchu, eu quero tcha” com “muda toda mexe com minha estrutura".

Primeiro lhes perguntei como uma pessoa poderia ser aceita por Deus, a resposta foi quase unânime, com poucas variações: uma pessoa é aceita por Deus quando cumpre seus mandamentos, quando lhe obedece.  Claro que a esta altura, fiz inúmeras conexões sócio-religiosas e doutrinárias.  Ali estava eu, testemunhando o tipo de evangelho moralista que domina a periferia, mas que também, é uma reprodução da teologia das igrejas ditas “centrais”.  Então, tive a coragem de fazer uma pergunta, que só confirmaria o que já sabia por intuição: quantos deles frequentavam alguma igreja evangélica?  Maldito empirismo!  Claro, os dados estavam diante de mim, todas as mãos, dos quase vinte, levantadas.  Pasmem, eles não são católicos, são evangélicos!  Nominais, é claro, em sua maioria esmagadora.  Ué?  Existe isso entre evangélicos?  Agora existe meu filho.

Claro, aproveitei a oportunidade, e disparei uma pergunta básica: Se somos aceitos por Deus pelo que fazemos, então qual é o valor do que Jesus fez?  Por que precisamos de Jesus Cristo?  Por que Ele morreu na cruz?  A esta altura, ouve-se aquele barulhinho do “Windows” quando dá um erro... “fam!”.   Pois é, quase ouvi os grilos... então, o silêncio foi interrompido com um corajoso que disse: Ele morreu para perdoar nossos pecados.  Síntese?  Tá bom.

Vamos esclarecer as coisas.  O negócio é o seguinte, você se chega a Deus pelo que você faz ou deixa de fazer. Beleza, uma religião moralista bonitinha.  Aí, quando você pisa na bola, corre pra Jesus e pede o perdão pelo sangue dele.  Depois que você é perdoado, lá vai o crente, mais uma vez, tentando fazer tudo bonitinho, e como em um círculo vicioso, ele vai fracassar, e pronto, sente-se mais uma vez dentro do inferno.   Este é o evangelho da “perifa”, mas também das “centrais”.  Das igrejas dos aglomerados, é verdade, mas também das de classe média.  Uma bela religião de formalismos, aparências, linguagens sem conteúdo, frases reproduzidas e toda esta tranqueira adornada com um adesivo do tipo “Deus é fiel!”.  Uma frase de efeito desprovida de qualquer conteúdo para as pessoas que a ostentam.

Então, tive que abrir o jogo, e comecei a anunciar o evangelho e comecei afirmando: todos nós nos chegamos a Deus por um único mediador, Jesus Cristo.  O que Deus fez ao enviar o seu Filho é gigantesco, e não há nada que possamos fazer, que impressione a Deus mais do que Jesus crucificado.  Nem um de nós pode fazer o que Jesus fez.  Deus só aceita uma obra e uma obediência no universo: aquela que seu filho Jesus Cristo realizou.  Logo, se você quer impressionar a Deus pelo que você faz, já é hora de desistir.  Deus já está impressionado e seus olhos estão fixos e uma única coisa: a obediência de Cristo.  Se você quer ser aceito por Deus, corra pra Jesus!  Abrace a obra de Jesus, e finalmente, acredite que tudo que Ele fez foi suficiente.  Não só para te perdoar, mas para te colocar diante de Deus como filho, igual a Ele.  Somente assim, você receberá o dom do Espírito Santo e terá as condições para obedecer a Deus.  Não movido por algum medo, mas por pura gratidão e vontade de servi-lo.  Certamente, você ainda pecará, mas sentirá repulsa pelo pecado.  Afinal, agora você é filho de Deus, você nasceu de novo, já está salvo, já foi aceito por Deus e o pecado será algo que não lhe pertence mais. 

Então, soltei o desenho da crucificação.  No final, só ouvi as fungadas, crianças esfregando os olhos, e finalmente, fiz uma oração com eles.  Solicitei, que só orassem aqueles que realmente acreditavam  que de fato Jesus Cristo é a única obediência e obra aceita por Deus, e que só há um jeito de uma pessoa ser aceita  por Ele: crer em Jesus, dar crédito à sua obediência.  A questão não é aceitar Jesus, é ser aceito por Deus em Jesus.

Conclusão?  Muitos ditos evangélicos, nunca foram evangelizados.  Muitos que sabem de cor as canções pop do meio evangélico, não sabem o que significa a cruz, Jesus, o Evangelho em todas as suas implicações.  Muita gente vive um tipo de religião moralista, baseada em obras pessoais, e ainda acreditam, em um “jezuizinho”, que só serve pra perdoar pecados eventuais em uma fracassada tentativa de atrair a atenção de Deus por “obras legalistas”.   Definitivamente,  evangélicos centrais e periféricos, precisam ser evangelizados.  Pode acreditar!  Quem sabe assim, os centrais sejam evangelizados pela periferia. Porque o contrário, até agora, não funcionou.
13 de abr. de 2013 | By: @igorpensar

Breve Caminhada

Por Igor Miguel

"...como estrangeiros e peregrinos no mundo..." I Pe 2:1

Peregrinação: do latim per agros, literalmente 'andar pelos campos'

Quando eu era criança, costumava deitar no chão cimentado da minha casa e olhar para o céu limpo.  Com os olhos fixos no infinito azul, me perguntava: – Será que Deus mora depois do azul?  Claro que aquele era o “grande” de uma criança, Deus não podia ser contido por algo tão limitado.  Mera filosofia infantil certamente, mas nem por isso menos consciente.  Se tudo que eu via era enorme, aquele que o criou deveria ser muito maior.  Se Deus existe, talvez eu o encontraria na infinitude, na enormidade e no mistério, talvez, depois disto tudo, ele estaria lá me esperando.  Irresistível e fascinante atração.

Em outros momentos, minhas reflexões e experiências com lupas, provocavam minha curiosidade a respeito da complexidade das coisas pequenas: formigas e pequenos insetos.  Claro que as estrelas e o escuro do céu à noite me fascinavam, mas como coisas tão insignificantes podiam ser tão sofisticadas, pensava.  Qual é o limite da pequenez?

Adorava ir à praia com uma máscara de mergulho e ver aquilo que parecia um universo paralelo: peixes, algas, ouriços, pedras, conchas e estrelas do mar, aquilo que a maioria das pessoas simplesmente ignora. Eu, com aquele simples dispositivo, me sentia alguém solitário contemplando peixes bailando como em uma coreografia harmoniosa.  O fundo do mar parece outra dimensão.

Na minha juventude, tinha medo de compartilhar minhas curiosidades, dúvidas e impressões.  Lá estava eu capturado pelo sensus divinitatis (senso da divindade), diante de um Deus que se exibe de forma estonteante.  Mas, paralelo ao fascínio, lá ia eu à escola, lugar da razão rigorosa, da lógica implacável e das explicações causais.  Tudo que era misterioso, tornou-se explicável, tudo que era belo, reduziu-se a números, frequência de luz, amido e partículas atômicas.  O único mistério que não podia ser domado por tais categorias era o amor, infelizmente, cativo pela banalização erotizante de nossa era.  O amor e o sexo pareciam fascinantes, pois me pareciam possuidores de alguma pulsão transcendente, mas se misturavam com a banalidade e as piadinhas de corredor de escola.  Até mesmo, o que me sobrara de misterioso e sacro, agora era profanado por uma cultura que adorava transgredir.

No meu mundo, pouca coisa de sagrado sobrara, apenas na Igreja, esperava encontrar algo de santo.  Lá, pessoas choravam diante do sagrado, as senhoras oravam fervorosamente, os cânticos e pregadores contagiavam corações com as narrativas bíblicas.  Aquele texto sagrado devolvera meu fascínio por Deus.  Moisés fala com Deus, os reis recebem profetas, anjos se encontram com homens, Deus se faz carne e cura cegos, paralíticos e confronta os demônios.  E mais tarde, em Apocalipse, encontram-se bestas, guerras celestiais e um Cristo vitorioso montado em um cavalo branco.  Livro fascinante este que chamam de Bíblia.

Na vida comunitária, olhava para os mais piedosos e para minha própria vida, e vivia naquela tensão interna, entre a hipocrisia e a mera reprodução da piedade.  Queria ser como aquele “irmão consagrado”, mas me faltavam recursos, a máxima paulina era insistente: eu quero fazer, mas não faço.  Até que enfim, se ergueu Cristo.

Cristo se levantou de forma incrível, fui tomado de consciência.  Jesus não me acusou de nada, eu mesmo pude ver minhas sujeiras mais profundas a partir da luz que dele emanou.  Eu andava em trevas, mas nele vi graça e verdade.  Com as mãos estendidas, não tive medo, me levantei, em lágrimas, torrentes, mas me levantei.   Por um instante, ali estava meu Senhor e meu Deus, não era uma visão, não era um sonho, nem imaginação, não era um presença empírica.  Era a narrativa de Cristo, era o Cristo ressuscitado, contado pelas Escrituras, preservado pelos mártires, anunciado pelo pregadores.  Seu Evangelho me atingiu em cheio.  Não pude resistir.  Quem ousaria resistir?

Diante do espetáculo de amor tão penetrante, só me restou uma modesta afirmação, que brotava dos lugares mais profundos da minha existência, eu simplesmente disse: – Eu creio!   Fui tomado de alegria, de plenitude, uma vontade de me entregar a tudo aquilo, deixando tudo para trás.  Eu só queria ser acolhido por aquela presença.  Quase lhe fiz uma tenda, reproduzindo a vontade dos discípulos na transfiguração.

Decidi, desde então, construir todas as minhas ações e vida, sob o Cristo inabalável, sobre a Rocha, e não na areia móvel.  Por um tempo, me aventurei, por ignorância e orgulho, em me afastar dele, tentei encontrar sentido em algo que não fosse apenas Cristo, quase fui absorvido pela mentira e a ilusão.  Mas, a aparição do pastor atrás de sua ovelha perdida, novamente, me trouxe à épocas áureas de gratidão e arrependimento.  Como o filho pródigo, corri ao encontro daquele que me chamou outrora.

Finalmente, nesta caminhada, desfrutei da verdade que Jesus e os apóstolos ensinaram:  não há nada estável no universo, tudo é volátil e fluido.  Cristo é a única coisa que se pode lançar irrestrita confiança e crédito.  Toda vitalidade e alegria procedem de uma fé resignada e insistente em Jesus.  Como ele disse:
“Quem crê em mim, como diz a Escritura, do seu interior, fluirão rios de águas vivas.” (Jo 7:38).  
E não pense que Jesus é um gênio da lâmpada que realiza todos os seus desejos idólatras.  Ele não é um ídolo ou fantoche que obedece seus caprichos religiosos.  Ele é indomável, quase selvagem, como diria C.S. Lewis.  Jesus faz o que apraz ao Pai, e nós aprendemos a tratar nossos interesses privados à boa, perfeita e agradável vontade de Deus.  Finalmente, aprende-se que liberdade autêntica só é possível nos domínios do Deus que se revela em Jesus Cristo.  Uma liberdade que se traduz na oração que o Senhor nos ensinou: “Seja feita a tua vontade!”.

Soli Deo Gloria