Meninos não usam armas, menores sim
Em que mundo algumas pessoas vivem? A discussão sobre um menino de 13 anos ter matado seus pais e ele mesmo ter se matado, parece tão improvável, né? Os questionamentos se dirigem principalmente ao fato de como um menino de 13 anos poderia manusear uma arma de fogo e mimimi. Pois bem, acho que este pessoal vive em um outro mundo. Jaílson de Souza e Silva, da ONG Observatório de Favelas do Rio de Janeiro, chamou minha (nossa) atenção a um fato: quando o menino da favela puxa uma arma e assalta e mata outro menino da não-favela, a notícia é veiculada em tom genérico: "menor mata menino". WHAT??? Mas, "perae", o menor também é menino, e o menino também é menor. Mas sabe como é, menor é um não-menino, e o menino é um não-menor, certo? Errado! Gente, todo dia, eu e meus colegas de trabalho (Aender Borba me ajuda ai), quando lidamos com a realidade de comunidades em situação de risco, entramos em um mundo que poucos conhecem. A periferia é um mundo invisível, desconhecido por grande parte da classe C emergente. Lá na "perifa" algumas crianças manuseiam armas com muito menos de 13 anos, e sabem manuseá-las razoavelmente bem. O tráfico de drogas descobriu que colocar "menores" na interface "consumidor" e "traficante", protege o traficante, afinal, os "dimenor" são "apreendidos" e não "presos". Mas, sabe como é, eles não são meninos ou crianças, são menores. Menores manuseiam armas, o menino de classe média, é menino, é um anjo, não sabe segurar uma pistola semiautomática. Temos que admitir que o discurso geral trata a criança de periferia como um tipo de não-criança, para não dizer, um tipo de "não-ser", e isto atinge em cheio nosso senso cristão de equidade. Para muita gente, quando Jesus disse, "vinde a mim as criancinhas", o "menor" estaria de fora, pois ela não é mais criança, nunca foi. Pelo menos, para alguns fariseus de nossa cultura de massa.
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