Quando uma pessoa perde a capacidade de ouvir o argumento do outro, já perdeu todo argumento a respeito de sua própria capacidade.
Insight
Quando uma pessoa perde a capacidade de ouvir o argumento do outro, já perdeu todo argumento a respeito de sua própria capacidade.
O Momento
Devido a quantidade de e-mails, comentários, scraps, ligações, etc. Sinto-me na obrigação de descrever meu novo tempo.
Estou feliz. Cheguei de alguns dias de férias em Cabo Frio - RJ com minha esposa. Foram dias muito agradáveis, pude ver parentes, amigos e meu pai; que se reconciliou comigo, nos abraçamos e choramos.
Minha esposa demonstra uma maturidade que nunca vi antes, sei que ela vai ficar brava por dizer isto, pois não gosta que eu fale publicamente de suas virtudes. Pura atuação de graça. Ela. anda lendo livros importantes como "Simplesmente Cristão e Surpreendido pela Esperança" de N.T. Wright. Eu leio Desiring the Kingdom da série Cultural Liturgies de James K.A. Smith e sinto-me vivendo uma fase terapêutica, de sensibilidade, oração e com um blend de vida monástica.
Estou preparando as malas para um final de semana em Taguatinga Sul - DF ministrando na Igreja Cristã Manancial da Vida, tendo em vista cumprir minha agenda que está humanamente reduzida, como sempre quis.
Diferentemente do que a vã imaginação pode levar a pensar, não tenho pretensões megalomaníacas, nunca tive, e não será agora que terei. Ando recebendo e-mails com propostas desta natureza, sei que mandam por puro desconhecimento de minha trajetória sofrida com a cruz de Cristo. Simplesmente não responderei e-mails desta natureza. Amo a simplicidade!
Como disse para amigos nesta III Conferência L'Abri: sinto-me humano, sinto-me gente, menos "pregador" ou "professor". Por isso, minha oração tem sido em arrumar uma escolinha para dar aulas pra "quarta série" e uma vaga em alguma faculdade para lecionar.
Simples assim, quero manter relacionamentos reais de amizade com gente que gosta de vir a minha casa, pura vida comunitária, permeada do amor a Cristo. É possível fazer a obra de Deus simplesmente sendo gente. Pode ter certeza!
Continuo lendo alguma coisa e a Bíblia. Minha oração mudou. Agora, ela é mais espontânea, mais natural, menos plástica, menos mecânica, sem os apetrechos e penduricalhos de minha fracassada religiosidade. Pura graça, pura obediência, de um Deus que opera soberanamente em mim, o querer e o efetuar.
"Eu sou a videira, vós, os ramos. Quem permanece em mim, e eu, nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer." (Jo 15:5)
Alguns andam dizendo por aí que abandonei a consciência dos fundamentos judaicos do evangelho. Ora, como posso negar o óbvio? Como posso negar o que está lá? Seria uma miopia desvairada Zezinho. Porém, dedico-me a uma fé renovada em Cristo, contra isso, ninguém pode se levantar. Só os que não creem mais nEle. Neste sentido, do judaísmo me interessa tudo aquilo que é relevante para esta fé. Não sou judeu, nos termos da tradição judaica, sou neto de judeus por parte de pai, sendo assim, dedico energia e tempo na construção de uma identidade cristã consciente de suas raízes, mas ainda cristã.
Vou indo sendo "surpreendido pela esperança" de que há boas comunidades cristãs, há bons pastores, bons pregadores, servos e servas, focados no Reino, que lutam para dignificar a fé evangélica, mesmo quando o que vemos é uma grande confusão religiosa, mercantilização da espiritualidade e abuso de poder. Acabamos chegando a uma grande rede de amigos e irmãos que estão vivendo Igreja e Evangelho nos termos mais profundos imagináveis.
Enfim, achando que era conhecedor de alguma extraordinária teologia, choquei-me ao descobrir, que a profundidade deste conhecimento estava entre pessoas que viviam espiritualidade nas coisas mais ordinárias.
Novo tempo, nova espiritualidade...
Soli Deo Gloria
Kol HaKavod LaShem
Coração Hospitaleiro
Ter um coração hospitaleiro envolve ter o lugar onde guardamos nossos valores e aspirações aberto a novas compreensões, percepções e vínculos.
A hospitalidade envolve criar um ambiente de acolhimento e responsabilidade com aquele que chega. Hospitalidade é abertura, abertura é generosidade. Abrir-se é dizer para o outro: "-- Entra! Há espaço aqui."
Hospitalidade é uma renúncia libertadora do cativeiro da vida privada. A entrada do outro no coração, envolve a quebra de determinados costumes, rotinas e manias. Significa conhecer o diferente e ouvir seus contos e histórias. Hospitalidade envolve ouvir e conhecer. Ouvir o que se traz e conhecer o que foi dito. O anfitrião deveria estar preparado para acolher o não-convencional.
Hospitalidade é permitir ao peregrino o descanso para os pés cansados, alimentar o estômago vazio, molhar a boca seca e trocar as roupas empoeiradas.
Hospitalidade é apelar ao peregrino que entre na tenda. Envolve interromper a jornada do que passa e convidá-lo a se aproximar. Hospitalidade é ouvir o que bate à porta, abri-la e sentar-se à mesa posta[1] com aquele que pede guarida e acaba nos ensinando a arte de morar em tendas.
"Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração; e encontrareis descanso para as vossas almas. Porque o meu jugo é suave e o meu fardo é leve." (Mateus 11:28-20).
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[1] Shulchan Arúch: Um conceito judaico que envolve a sacralidade do comer junto. A refeição comunitária envolve um ato de santidade.
A Narrativa se fez Carne
Nota Pública
Belo Horizonte, 10 de julho de 2010.
Ref. Nota pública a respeito de meu desligamento da AMES.
A quem possa interessar,
Por meio desta venho informar publicamente meu desligamento da Associação Ministério Ensinando de Sião (AMES) que ocorreu hoje, 10 de julho de 2010, por volta das 11 horas da manhã, na Congregação Har Tzion em Belo Horizonte.
O referido desligamento institucional e comunitário, envolve a interrupção de todas as atividades profissionais, presbiterais e vocacionais junto a mesma. Incluindo o CATES centro de gestão educacional que fundamos e organizamos com o ensejo de que mais pessoas tivessem acesso à produção teológica da AMES, na pessoa de seu corpo de professores locais e parceiros.
A AMES nestes últimos 10 anos, período que me dediquei integralmente ao serviço da visão vocacional deste ministério, demonstrou ser uma instituição idônea, na pessoa de seu presidente Marcelo Miranda Guimarães, seu vice-presidente Matheus Zandona Guimarães e seu presbitério local. Não havendo nada que os desabone em seu papel e função espirituais. Ao contrário, testemunhei o carinho, o amor e integridade desses líderes em seu desejo de servirem ao Senhor Jesus e a Igreja do Senhor naquilo que foram chamados para realizar.
Meu desligamento, deve-se a especificidade de minha vocação e a necessidade de uma atuação maior junto ao Corpo de Cristo, a Igreja, em questões de natureza teológica, o que exigirá de mim maior flexibilidade. Como minha vida e ministério foram sendo construídos neste sentido, principalmente nos últimos 3 anos, senti-me inclinado a me desligar em amor da AMES, sob a benção da Comunidade Local (Congregação Har Tzion) e de seu presbitério sob a liderança do Rabino Marcelo.
O desligamento também se justifica pela necessidade de dedicação maior a minha área profissional (a educação), minhas atividades acadêmicas (o mestrado) e afins.
Sendo assim, agradeço a todos: meus ex-líderes, meus amigos, alunos, ministérios parceiros e todas as comunidades que me receberam como servo do Senhor, comprometido com as boas novas do Reino de Deus, ainda ligado a AMES.
Tudo isso opera-se em um clima de unidade, amor e amizade, tanto que ofereço meus serviços a AMES para o que estiver ao meu alcance a partir de agora.
Obrigado a todos e que o amor de Cristo transborde em nossos corações.
No Messias,
Igor Miguel
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Benedito: um poema
Dele não escutarás nada.
Daqueles que dele falam, ouvirás tudo.
Cujo dito não acredito.
Palavras constroem imagens.
Imagens são palavras.
Palavras mal-ditas,
Imagem maldosa.
Quando a palavra má for dita.
Não verás o bendito da mesma forma.
Só verás o que foi dito.
Maldito o homem de língua perversa.
Pois veste-se do mal, quando verte amargura.
Só há um jeito de lidar com a verdade.
Não vejas pelo que dita dor.
Mas, pelo que vive Benedito*.
*Ben - filho em hebraico. Édito - decreto inquisitorial.
Inovadoramente Tradicional
Sei da tirania da história. Esta coisa de nascermos e nos depararmos com a vida não é brincadeira. Apesar de que nas brincadeiras da infância simulávamos a vida adulta como algo prazeroso, cheio de ludismo e trabalho criativo. A vida adulta, vida que temia quando criança, é cheia de desafios e desatinos, muito pouco lúdica, com ilhas de devaneios.
Ou nos entregamos à filosofia do “deixa a vida me levar” ou admitimos que nossa presença na história tem um desígnio, tem uma causa e um fim de ser. Como nos portaremos diante do tempo que se foi e que virá? O que faremos diante da realidade do hoje?
O “entregar-se” à historicidade, ao tempo, é uma passividade preguiçosa, um suicídio biográfico. Seria como receber um papel em branco e esperar que dele saia espontaneamente alguma obra de arte, algum tipo de rabisco, pelo menos. Talvez, mais interessante seria pensar que esse papel já vem com algum esboço, com alguma escrita, incompleto, tentadoramente inacabado. Irresistível como quando nos entregam um desenho pra colorir e uma caixa de lápis de cor. Deliciosamente tentador.
Não damos conta do inacabamento, não suportamos a “falta” e o “hiato”. Temos um chamado para cultivar o jardim!
Há três tipos de reação diante do mundo. A primeira, aceitar a estabilidade e a estagnação, a confortabilidade dogmática, aprisionada por um determinado gueto cultural. Um estado de permanência no útero materno. A segunda, um salto no escuro, uma vida sem raiz, sem memória, sem tradição, lançado no novo, no relativismo e no vazio. Um estado de orfandade. Ou finalmente, a terceira reação, sermos como ''o escriba versado no reino dos céus, que é semelhante a um pai de família que tira do seu depósito coisas novas e coisas velhas.” [1] Um estado de sabedoria.
Nem estagnação, nem desenraizamento. O desafio é manter uma postura hermenêutica, como um intérprete que sabe lidar com as novas demandas sem perder a memória. Ele sabe tocar no mundo novo sem perder a referência da história. Consegue ler as novas tendências sem perder o frescor dos clássicos.
Não dá para viver o novo sem as ferramentas do antigo. Não dá para ler o mundo sem as letras que a história nos legou. Nem como feto, nem como órfão, apenas como ancião sábio pelas mechas brancas.
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[1] Mt 13:52.
Mística Cruz: um poema.
Como te manténs de pé?
Por que escandalizas os filhos de Abraão?
Odiosa cruz. Doloroso lenho da akedá [1].
Por que o levas Abraão?
Por que levas teu único filho, o filho a quem amas?
Quem te ordenou?
Por que te manténs calado Isaque?
Deves ir.
Sobes à ingrime montanha, o mais perto de Deus.
Lá abrirás teus braços sobre a rocha em um altar suspenso.
Não te deitas sobre a pedra fria.
És erguido sobre ela, posto de pé, com teus olhos fixos no pecador,
este que te olha em um misto de terror e arrependimento.
O judeus te mataram?
Não. Eu te matei!
E feri os judeus por não entender o seu amor por mim.
Perdoa-me, pois não sei o que faço.
Evangelho, simplesmente.
Vede quão grande amor nos tem concedido o Pai, que fossemos chamados filhos de Deus. (I Jo 3:1).