19 de dez. de 2014 | By: @igorpensar

4º Domingo de Advento

O termo "Cristo" é a tradução grega da expressão hebraica משיח (mashiach), que quer dizer "ungido". Uma referência que evoca os três ofícios de Israel em que as pessoas eram ungidas, ou seja, consagradas com o óleo santo: o profeta, o sacerdote e rei (prefiro esta ordem). De fato, quando se olha pra Jesus, o que se vê é o Ungido de Deus. Nele, encontra-se esta gradação. Aquele que é maior que Jonas (profeta), maior que o Templo (o sacerdócio) e maior que Salomão (Rei) (Mt 12).

(1) Em seu ofício terreno o Cristo/Ungido/Messias se manifesta predominantemente como profeta, seus sinais remetem os profetas do Antigo Testamento. (2) Na cruz, na ressurreição e na ascensão percebe-se seu sacerdócio (Hebreus trata sobre este tema). (3) E, em seu retorno, Ele revela sua realeza.

Quando celebramos o natal, lembramos que aquela criança envolta em panos e palha era o sinal de que o Ungido de Deus está entre nós, que Deus inaugura um drama magnífico, um processo de coroamento de seu Messias. Os três presentes, eram três ofícios, três atos de salvação: o anúncio, a reconciliação e o governo.
15 de dez. de 2014 | By: @igorpensar

3º Domingo de Advento

Se há um Deus, Ele deveria em algum sentido ser surpreendente. Surpresa em relação às nossas expectativas sobre quem e como Ele deveria ser. Um Deus previsível enquadrado em cálculos não é "Deus", é fruto de afetos, paixões, uma ilusão. Percebo na narrativa judaico-cristã, que encontramos na Bíblia, um Deus cheio de "extravagâncias" em suas aparições, sempre surpreendendo, sempre curto-circuitando expectativas ilusórias sobres quem Ele é. Abraão tem filho na velhice, Moisés não entra na terra prometida, Davi concebe um sucessor de uma mulher tomada de um pecado, um profeta que lamenta, uma mulher simples pra dar a luz ao Salvador do mundo, e quando se faz gente entre nós, o faz no corpo frágil de um judeu da Galiléia, na periferia da periferia. Parece que há um humor nestes dramas, uma forma que nos parece "bizarra" e "estranha" de se revelar. Mas é isto mesmo, este "elemento surpresa" nas aparições de Deus é precisamente uma das evidências de sua autenticidade. Um Deus previsível não seria Deus, mas pura projeção. O Natal é isso, uma história estranha, por isso, tipicamente divina: Deus se fez carne e habitou entre nós, nascendo de uma jovem virgem. ‪#‎advento‬ ‪#‎natal‬

Neo-Ateísmo sem Sentido

Uma realidade complexa resultante do puro caos e/ou aleatoriedade físico-química só poderia produzir uma "mentalidade" igualmente caótica e aleatória. Se nossa razão é inquieta em sua busca de sentido e coerência, parece plausível que a realidade não seja resultado de pura aleatoriedade, mas de intencionalidade criativa. Nestes termos, parece haver séria inconsistência lógica no neo-ateísmo evolucionista, principalmente, quando incoerentemente procura "explicar" algo a partir de uma razão, que parece ser a única coisa que se salvaguardou de um mundo desprovido de qualquer inteligibilidade, como se supõe. A "Razão", para esses empreendedores do "sem sentido", ocupa um lugar absoluto, sendo ela o fundamento e o critério de qualquer julgamento, a fonte de explicação de todas coisas. Assim, ironicamente, o neo-ateísmo acaba por atribuir um status religioso à Razão, quase, para não dizer, fatalmente, divinizando-a.
3 de dez. de 2014 | By: @igorpensar

Maria: anfitriã do Salvador

Maria, ou como era conhecida em hebraico, Miriam, evoca uma longa linhagem de mulheres portadoras da promessa de um descendente. Maria tinha entre suas ancestrais algumas mulheres que não podiam conceber. Bem, parece que este não era um problema somente da virgem que pariu.

Maria, mulher santa, separada pela soberania do Criador, encontrava-se no final desta longa linhagem. Não é em vão que o anjo anunciara: "Nada é impossível para Deus" (Lc 1:37), praticamente a mesma sentença dita à Sara, esposa de Abraão, que enquanto idosa, foi-lhe prometido um filho (Gn 18:14).

Sara, Rebeca, Raquel, e até mesmo sua parenta Isabel, todas apontavam para uma que seria "a bendita entra as mulheres", Maria. Foi dito, que a semente da mulher esmagaria a cabeça da serpente.  Todas essas mulheres milagrosamente deram à luz, claro, as matriarcas eram estéreis, Maria, entretanto, virgem.  Sob poder do Espírito Santo gerou e hospedou o Unigênito de Deus em seu útero, como a arca que abrigava as tábuas da lei, neste caso o Verbo/Palavra de Deus.

Neste período de advento, rumo ao Natal, lembremos do "Magnificat": "A minha alma engrandece ao Senhor, e o meu espírito exulta em Deus, meu Salvador; porque deu atenção à condição humilde de sua serva... auxiliou Israel, seu servo, lembrando-se de sua misericórdia para com Abraão e sua descendência para sempre, como prometera aos nossos pais." (Lc 1:46 e seg).

Eis o lugar bíblico de Maria na soteriologia bíblica e protestante, o lugar da mãe de Jesus dentro da narrativa natalina.  #advento
2 de dez. de 2014 | By: @igorpensar

Advento 2014

De acordo com o calendário cristão, no último domingo, dia 30/11, começou o período do Advento, que tradicionalmente reserva estes dias em oração, criando uma atmosfera de expectativa pelo Natal (o período se encerra no dia 24). Diferente do que se supõe em meios mais primitivistas, cristãos conscientes não celebram nenhum deus pagão no Natal, mas reconhecem que mesmo entre pagãos pode-se achar um "altar ao Deus Desconhecido" (Atos 17). E, de fato, caminhamos nesta expectativa de celebrar o escândalo evangélico: O Filho de Deus acomodou-se entre os homens em forma de gente. Ele assumiu a fragilidade do corpo humano, repousou como uma criança judia em palha, para depois, assumir a madeira da cruz. Esvaziou-se, o grande mistério da chamada "kenosis" [η κενωση του Χριστου] (esvaziamento), assumindo o "tabernáculo" humano para cumprir o que está em Provérbios de Salomão: que a "Sabedoria" encontrou sua alegria entre os filhos dos homens (Pv 8:31). 

Que nossas mentes encarem este evento e sua singularidade para a fé Cristã. Encontramos em Cristo a evidência mais poderosa do amor de Deus que se exibiu em forma humana, para se fazer conhecido, e para dar sua vida em resgate de muitos. Ele é Deus conosco. Viva o Emanuel!
25 de nov. de 2014 | By: @igorpensar

Uma Pagão e o Cristianismo

Reprodução do site Aleteia
 
Durante muitos e longos séculos, um elegante manuscrito composto em grego permaneceu ignorado no mais abissal dos silêncios. O texto, de origens até hoje misteriosas, só foi encontrado, e por acaso, no longínquo ano de 1436, em Constantinopla, junto com vários outros manuscritos endereçados a um certo “Diogneto”.

Se não há certeza sobre o seu autor, sabe-se que o destinatário do escrito era um pagão culto, interessado em saber mais sobre o cristianismo, aquela nova religião que se espalhava com força e vigor pelo Império Romano e que chamava a atenção do mundo pela coragem com que os seus seguidores enfrentavam os suplícios de uma vida de perseguições e pelo amor intenso com que amavam a Deus e uns aos outros.

O documento que passou para a posteridade como "a Carta a Diogneto" descreve quem eram e como viviam os cristãos dos primeiros séculos. Trata-se, para grande parte dos estudiosos, da “joia mais preciosa da literatura cristã primitiva”.

Confira a seguir os seus parágrafos V e VI, que compõem o trecho mais célebre deste tesouro da história cristã:


"Os cristãos não se distinguem dos outros homens nem por sua terra, nem por sua língua, nem por seus costumes. Eles não moram em cidades separadas, nem falam línguas estranhas, nem têm qualquer modo especial de viver. Sua doutrina não foi inventada por eles, nem se deve ao talento e à especulação de homens curiosos; eles não professam, como outros, nenhum ensinamento humano. Pelo contrário: mesmo vivendo em cidades gregas e bárbaras, conforme a sorte de cada um, e adaptando-se aos costumes de cada lugar quanto à roupa, ao alimento e a todo o resto, eles testemunham um modo de vida admirável e, sem dúvida, paradoxal.

Vivem na sua pátria, mas como se fossem forasteiros; participam de tudo como cristãos, e suportam tudo como estrangeiros. Toda pátria estrangeira é sua pátria, e cada pátria é para eles estrangeira. Casam-se como todos e geram filhos, mas não abandonam os recém-nascidos. Compartilham a mesa, mas não o leito; vivem na carne, mas não vivem segundo a carne; moram na terra, mas têm a sua cidadania no céu; obedecem às leis estabelecidas, mas, com a sua vida, superam todas as leis; amam a todos e são perseguidos por todos; são desconhecidos e, ainda assim, condenados; são assassinados, e, deste modo, recebem a vida; são pobres, mas enriquecem a muitos; carecem de tudo, mas têm abundância de tudo; são desprezados e, no desprezo, recebem a glória; são amaldiçoados, mas, depois, proclamados justos; são injuriados e, no entanto, bendizem; são maltratados e, apesar disso, prestam tributo; fazem o bem e são punidos como malfeitores; são condenados, mas se alegram como se recebessem a vida. Os judeus os combatem como estrangeiros; os gregos os perseguem; e quem os odeia não sabe dizer o motivo desse ódio.

Assim como a alma está no corpo, assim os cristãos estão no mundo. A alma está espalhada por todas as partes do corpo; os cristãos, por todas as partes do mundo. A alma habita no corpo, mas não procede do corpo; os cristãos habitam no mundo, mas não pertencem ao mundo. A alma invisível está contida num corpo visível; os cristãos são visíveis no mundo, mas a sua religião é invisível. A carne odeia e combate a alma, mesmo não tendo recebido dela nenhuma ofensa, porque a alma a impede de gozar dos prazeres mundanos; embora não tenha recebido injustiça por parte dos cristãos, o mundo os odeia, porque eles se opõem aos seus prazeres desordenados. A alma ama a carne e os membros que a odeiam; os cristãos também amam aqueles que os odeiam. A alma está contida no corpo, mas é ela que sustenta o corpo; os cristãos estão no mundo, como numa prisão, mas são eles que sustentam o mundo. A alma imortal habita em uma tenda mortal; os cristãos também habitam, como estrangeiros, em moradas que se corrompem, esperando a incorruptibilidade nos céus. Maltratada no comer e no beber, a alma se aprimora; também os cristãos, maltratados, se multiplicam mais a cada dia. Esta é a posição que Deus lhes determinou; e a eles não é lícito rejeitá-la”.


Fonte: http://www.aleteia.org/pt/religiao/artigo/uma-carta-de-mais-de-mil-anos-da-testemunho-os-cristaos-sao-a-alma-do-mundo-5802070808461312
19 de nov. de 2014 | By: @igorpensar

Alerta Doutrinário!

Por que não é adequado para um cristão apoiar ou participar de cursos, conferências ou eventos promovidos pelo Ministério Ensinando de Sião?

1) O Ministério Ensinando de Sião não tem por missão e prioridade a afirmação cristã da centralidade e suficiência do Evangelho de Jesus Cristo para salvar, redimir, justificar, santificar e ressuscitar o ser humano, seu objetivo (como se encontra em seu site) é: "contribuir para difundir entre os cristãos a visão de sua reconexão com o povo judeu e com a nação de Israel, bem como a restauração das raízes bíblicas e judaicas da sua fé e seu papel espiritual em relação à redenção de Israel";

2) O Ministério Ensinando de Sião não sustenta e defende explicitamente o ensino cristão de que a natureza de Deus é trinitária, ou seja, a organização não reconhece e afirma a plena e total unidade de Deus que se revela absolutamente divino em três pessoas distintas Pai, Filho e Espírito Santo;

3)  O Ministério Ensinando de Sião acredita que se o cristão não fizer obras em cooperação com a graça salvadora e santificadora, ele cairá da fé perdendo a salvação. Ignorando o ensino cristão e paulino que em nada podemos cooperar com a salvação ou santificação, mas que nossas obras de amor são resultado da graça que obtemos exclusivamente pela fé em Jesus Cristo;

4) O Ministério Ensinando de Sião pratica idolatria cultural ao exaltar e super enfatizar a cultura judaica e os judeus, criando uma tensão já resolvida pelo ensino apostólico de que todos, judeus e gentios, devem encontrar satisfação identitária na unidade pela fé em Jesus Cristo, sendo Ele a fonte de todo sentido existencial e identidade;

5) O Ministério Ensinando de Sião não enfatiza e não promove missões e evangelismo local, e a pregação do Evangelho a partir de Cristo e de sua obra justificadora.  A maioria esmagadora de seus membros é formada por pessoas oriundas e que migraram de várias denominações evangélicas locais;

6) O Ministério Ensinando de Sião despreza e promove uma cultura de desdenho teológico à tradição cristã evangélica, a muitos dos ensinamentos cristãos historicamente acumulados, criando uma atmosfera indireta de "superioridade teológica" de suas doutrinas;

7) O Ministério Ensinando de Sião promove a "tese marrana" em que a partir de sobrenomes adotados por judeus que vieram ao Brasil em fuga da inquisição durante a colonização é possível "restaurar" ou "resgatar" uma identidade judaica.  Muitos evangélicos sentem-se atraídos e seduzidos pelo discurso de terem alguma ancestralidade com o povo bíblico, e assim, alguns até já submeteram à circuncisão com o aval dos líderes desta comunidade (tenho provas testemunhais disso, se quiserem me processar, levem isto em consideração), como um sinal de retorno à fé judaica.

Por estas e outras razões peço aos pastores que circulem e ensinem seus membros sobre os perigos doutrinários deste movimento, alertando-os para que não participem de nenhum curso, conferência ou evento promovido por esta instituição. Fui líder do Ensinando de Sião durante 10 anos e posso alertá-los sobre os perigos doutrinários propagados por aquela instituição.

Caso tenham alguma dúvida, não hesitem em entrar em contato conosco.

Atenciosamente,
Igor Miguel

Justiça e Igualdade

Um conceito de justiça baseado em uma percepção distorcida de igualdade pode ser desumanizadora. Igualdade associada a uma espécie de homogenização ou superação das diversidades pode levar ao coletivismo ou à massificação (presente em experiência políticas hegemônicas). Por outro lado, uma conceito de justiça baseado na ideia de que "os homens são igualmente diversificados" pode levar a uma hiper-subjetivação, que resultará em fragmentação e atomização social (presente em fenômenos sociológicos pós-modernos). Em outras palavras, ocorrerá o enfraquecendo dos vínculos comunitários e a perda de senso de pertencimento. Mais uma vez, a visão de mundo judaico-cristã oferece um importante subsídio sociológico quando afirma a natureza trinitária de Deus, e que o homem foi criado à imagem desta "comunidade divina", superando as distorções coletivistas e/ou individualistas. Se assim for, deveríamos levar a sério a relação entre teologia, cosmologia, sociologia, cultura e política.
16 de nov. de 2014 | By: @igorpensar

Ordenação ao Ministério Pastoral

Belo Horizonte, 16 de novembro de 2014.

Ordenação ao ministério pastoral

Agradeço ao Senhor Deus que se revelou em seu Filho, Jesus Cristo, pela tortuosa, longa, mas providencial jornada até este dia, quando meu Deus me chamou a cooperar no cuidado de seu rebanho.  Recebo com muito temor tal responsabilidade.  Que a graça de Deus que desfrutamos por nossa fé em Cristo nos farte de condições para ensinar, aconselhar e disciplinar os eleitos em Cristo que estão sob nossa responsabilidade.   Que possamos abraçar esta vocação com corações cheios do Espírito Santo para tornar Cristo conhecido e edificado para a glória de Deus, o Pai.








15 de nov. de 2014 | By: @igorpensar

O que é um reformado?

Franklin Ferreira, o mano Jonas Madureira, Tiago Santos e Vinícius Musselman em um bate-papo muito esclarecedor sobre a identidade evangélica a partir de sua matriz reformada.   Uma contribuição fundamental para a solidez de uma identidade evangélica muito bem localizada na história.  Esta é a sobriedade histórica que tanto insisto que a Igreja Evangélica precisa aprender, para não cair em falácias judaizantes, restauracionistas, espiritualizantes, neo-pentecostais e outras.
 
 
 
14 de nov. de 2014 | By: @igorpensar

Da Aridez ao Frescor

Solitário, inóspito e banido em exílio.  
Puro abandono e alienação.  
Estranho a si, consigo mesmo e com o mundo.  
O horizonte se repete, deserto, miragens e ilusões.
A vitalidade se esvai, escorre entre os grãos de areia.
Tudo se seca, trai e fere.  Um mundo hostil.
Escaldante, sufocante, falta-lhe água e ar.
As forças acabam: tomba e cai.
Tudo se escurece, fica mais confuso e fragmenta-se.
Seu espírito quase descola-se, desvincula-se, sai de si.

Ante a perda dos sentidos, algo lhe recobra.
Discreta nitidez, tudo limpo.  Claro e fresco.
Uma face suave e risonha mira-lhe.
Luz, muita luz, mas sem o calor.
A temperatura é perfeita.

Já com força, sem o cansaço, levanta-se facilmente.
Da fadiga, só a lembrança.
Olha ao redor, fica intrigado. "Estou em casa?"
Um lugar que nunca residiu.
Mas que nunca deveria ter deixado.

As cores, texturas e músicas são fascinantes.
Sempre as quis ouvir, apesar de nunca conseguir em seu mundo.
Mundo ordeiro, harmonioso, cheio de cores e algumas nunca vistas.
Que variedade de perfumes, formas e seres jamais apreendidas.
Nela, cidade e jardim se confundem.
Céus e terra se encontram em um casamento. 
Um só corpo, um só espírito.
7 de nov. de 2014 | By: @igorpensar

Liberdade Providencial

Há uma ênfase desproporcional em nossa cultura contemporânea no sentido de afirmar a vontade do indivíduo sobre o mundo e sobre si mesmo. Baseado neste critério, muita gente decide sua orientação sexual, relacionamentos, o destino de seu dinheiro, o que faz com seu corpo e/ou se aborta ou não. Chamam isto de liberdade, mas uma liberdade que contraditoriamente mostra-se impotente diante de pulsões, vontades e ambições sexuais, financeiras e afetivas. No final das contas, o que chamam de liberdade acaba sendo puro determinismo, cativeiro da alma. Desta forma, só posso inferir que liberdade real acaba sendo aquela disposição providencial de fazer o que sei que é melhor, enquanto meu corpo e meus afetos dizem exatamente o contrário. ‪#‎liberdade‬
4 de nov. de 2014 | By: @igorpensar

Refúgio Existencial

Muita tensão é colocada sobre a vontade humana. O fardo que nos foi imposto de que somos senhores de nosso destino é insuportável. Não adianta, tem situações que você não pode provocar, eventos que você não pode controlar e sofrimentos que você não pode prever. Como sobreviver a tudo isso? Procure um refúgio de sentido onde se pode apreender significado de cada evento contraditório. Neste ponto, há algo em Cristo que torna a vida bem mais significativa, pois é a única expressão religiosa que se constitui sobre um evento de imenso sofrimento e sacrifício, refiro-me à paixão de Cristo. Quando a narrativa e crença cristãs concebem a inocência do jovem judeu como Filho de Deus, isto torna tudo exponencialmente ainda mais significativo. Deus está também abraçando o sofrimento na cruz em um corpo humano. Logo, ninguém pode dizer que Ele é indiferente às agruras humanas, ao contrário, ele transforma a dor e a tensão em uma plataforma de salvação, eternidade e sentido existenciais. Por isso foi dito pelo apóstolo: "Em tudo somos atribulados, mas não angustiados; perplexos, mas não desanimados. Perseguidos, mas não desamparados; abatidos, mas não destruídos." (II Co 4:8-9).
3 de nov. de 2014 | By: @igorpensar

Cilindro Ordinário

O irrisório, porém ainda, inóspito desejo de esticar as mãos e segurar sua frieza.  Seu corpo soado, escorrendo gotículas em uma aparência úmida e fresca.  Queria tocar em sua transparência, segurar-te firme, para não te ver deslizando entre meus dedos, és escorregadio.  Tomo-te, deixo que o que está em ti seja sentido, a dor prazerosa de tê-lo em minhas mãos.  Mesmo com todo desconforto, aprecio as muitas cores que brilham em teu interior e iluminam a vida de quem aspira sorver tua alma.   Entorno-te, não há melhor descrição, deixo escorrer seu frescor goela abaixo na ânsia de ver minha angústia aliviada.  

Nosso encontro tornou-se intenso e rápido, como às vezes são encontros de prazer.  Porém, a pressa me feriu, doeu-me as entranhas e a cabeça.   Logo, vi teu ressinto vazio, inóspito, apenas com sinais daquilo que de ti tomei.  Agora, abandono-te, desprezo-te e largo-te ao relento, sem nenhuma expectativa de encontrá-lo novamente.  Mas, nosso reencontro, cíclico, quase inevitável, acontecerá em breve.  Posso imaginar um sorriso irônico vindo de tua inanimada cilíndrica rigidez, como que se pensasse:" -- Ele voltará, espero-o."   Miserável recipiente, sabes que voltarei.  Quando a sede me assaltar, terei que me render mais uma vez a este ordinário copo d'água.

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Igor Miguel

Saulo foi Assaltado por Deus

O que aconteceu com Saulo (Paulo) a caminho de Damasco foi um assalto. O Cristo furtou aquele jovem judeu de uma brilhante carreira entre os mestres de Israel. Arrebatou-o de seus projetos de felicidade baseados em sua autonomia. Desde então, seu coração foi tomado de novos desejos, novas expectativas e novos sonhos, agora, desejava conhecer a Cristo, viver e morrer por Ele, lançava-se em uma vida de riscos, pois descobrira enfim um tesouro sobremodo elevado. O assalto de Cristo salvou-o da mediocridade de suas expectativas sobre Deus e sobre si mesmo. Deus salvou Saulo de uma falsa reputação.
30 de out. de 2014 | By: @igorpensar

Vergonha Alheia

Conselhos teológicos para o sr. Matheus Z. Guimarães do Ensinando de Sião:

1) Faça um curso de teologia por favor, eu fico muito envergonhado quando me mandam seus textos teológicos, você precisa urgentemente fazer um curso de teologia decente.  Seu desconhecimento de história da Igreja não combina com sua postura em lidar com temas teológicos;

2) Você nunca ou pouco deve saber qual a diferença que existe entre pelagianismo, neo-pelagianismo e semi-pelagianismo.  Não deve saber que o antinomismo (vai ver na Wikipedia) foi ardentemente combatido pela reforma protestante, exigindo longas refutações por parte de Calvino e Lutero;

3) Você demonstra completa e irrestrita ignorância a respeito da tradição teológica do cristianismo. E fica neste "mimimi" de primeiro século querendo engabelar gente tão deseducada teologicamente quanto você;

4) Seja esperto, pare de ficar escrevendo asneiras teológicas sobre reformadores e pais da igreja, pois me mandam e-mails me perguntando o que acho.  E, inevitavelmente, responderei, e isso só piora a reputação de vossa já herética instituição religiosa;

5) E, se você ficar ofendido com o que escrevi aqui, usando falácias e argumentum ad hominem (não sabe o que é isso? Vai pra Wikipedia), isto só mostra, mais uma vez sua limitação argumentativa. Você vai achar arrogante, vai mostrar este texto para as pessoas, vai usar frases prontas "pelo fruto conhecereis e blá blá blá". Pode dizer que "não gosta de teologia", "pode bater nos teólogos", mas só faça isso se você nunca mais escrever textos teológicos, vamos combinar assim?  Aí, vou acreditar que você minimamente está tentando ser coerente com o que fala, OK?  Vocês são muito previsíveis.  Se o fizerem, isto só mostra a fraqueza teológica desproporcional que já vos acomete;

6) Honestamente, seus textos são sem métrica, falta retórica no que você escreve, falta cadência lógica e fontes teológicas com um mínimo de credibilidade histórica.  Pra ser um pouco mais honesto: falta beleza. Outra dica pra superar esta "pose teológica" que você adotou: vá ler Alister McGrath, Thomas Torrance, C.S. Lewis ou N.T. Wright, e você entenderá minimamente o que estou dizendo.   Faça um favor a seus leitores: debruce-se sobre as Institutas de João Calvino, leia pelo menos o Da Liberdade do Cristão do Lutero (é fininho).

7) Já ouviu falar de vergonha alheia? Eu tenho! Tenho muitos amigos versadíssimos em teologia, são educados, são portadores de uma espiritualidade há anos luz da que vi em vocês.  Então, quando eles olham para o que vocês escrevem.... eles coram de vergonha.  Pois, vocês fazem isso publicamente. Escrevem no site, colocam vídeos na web e isto fica tão feio.

8) Estou disponível para um debate teológico público com quem vocês quiserem.  Com você, com seu pai, pode ser gravado e sem cortes.  Sobre o tema que vocês quiserem.  Eu sugiro alguns dos seguintes temas: a Trindade, relação lei e graça, restauracionismo x cristianismo, Igreja & Israel, sobre a doutrina da salvação, e assim, deixaremos as pessoas julgarem.  O que acha?  Estou disponível.

9) Enquanto vocês vão brincando de construir uma nova religião, poderiam no mínimo, ouvir seus  supostos mestres lá de fora, que já defendem a legitimidade histórica do cristianismo, seu patrimônio que foi produzido de uma profunda devoção e entrega a Cristo.   Enquanto vocês batem no cristianismo, batem em uma grande nuvem de testemunhas, mártires e muita gente, que soube o que  é perder tudo por causa do conhecimento de Cristo. Tenham muito cuidado com o que escrevem. 
29 de out. de 2014 | By: @igorpensar

Sola Fide (A Fé Somente)



Neste mês de outubro, mês da reforma protestante, a Editora Ultimato vem publicando uma série de textos sobre os 5 Princípios da Reforma, ou os chamados 5 solas (5 somentes).   Fui convidado para escrever o primeiro texto da série, que é o "Sola Fide" (A Fé Somente).  Então, compartilho abaixo o link para o texto na íntegra.

Boa leitura!

http://www.ultimato.com.br/conteudo/sola-fide

Post Tenebrae Lux!
(Depois das Trevas Luz)
17 de out. de 2014 | By: @igorpensar

Corrupção Capilar

Já falei por aqui sobre a pobreza moral que acomete o Brasil. Hoje, vendo a notícia sobre motociclistas circulando em passarelas no Rio de Janeiro, que foram feitas para proteger o pedestre de veículos automotores (olhem a ironia), isso ficou ainda mais forte.

O evento representa inúmeras situações de práticas corruptas em estruturas capilares da sociedade brasileira. A corrupção moral em instâncias mais evidentes, onde o poder político e econômico se concentram, reflete apenas a corrupção moral do brasileiro em níveis bem mais palpáveis.

Temos que admitir que nossa pobreza moral é alarmante. Nosso projeto civilizatório é um fracasso. Esta falha está lá em nossa história, religiosidade e vida familiar. Desde pequenos tivemos, em geral, pais e parentes, vizinhos e amigos, que nos ensinaram este "jeitinho brasileiro" (do quintos dos infernos), este mania transgressora, que burla sistemas, que cria atalhos ilegais e que aparecem claramente no esquema "eu-te-indico-você-me-indica". Esta transgressão que nos parece quase inata, mas culturalmente cultivada, está relacionada àquela imoralidade do "fura-fila", do esquema do trocador que pede pra você descer pela frente e ganha parte da passagem, compra e venda de senhas, é um mundo de trambicagens e cambalachos.

Quando se vive em um mundo imoral, se cai inevitavelmente em um esquema moralista. Já falei aqui desta teodiceia exógena, esta tendência latino-americana de perceber o mal como algo desencarnado, presente nas corporações capitalistas etc. Esta tendência que concebe instituições e prédios públicos como ídolos sob possessão demoníaca. Assim, acabamos por terceirizar a responsabilidade. Porém, ainda acho que o mal está aqui em gente como a gente. A presença dele em estruturas objetivas é porque o homem está lá.

Penso que combater a corrupção é de outra instância. O Estado não conseguirá fazer isso, o que ele pode fazer é reprimi-la pelos meios institucionais e jurídicos, a começar, erradicando a impunidade. Mas, nós, que estamos aqui em instâncias mais concretas e encarnadas, precisamos nos engajar na promoção de uma vida virtuosa. Vamos começar por viver uma vida mais significativa, mais ordeira e mais ética. Que possamos promover uma vida de comprometimento, educar nossos filhos a respeitar as relações humanas, leis públicas, regras de convívio humano e a generosidade com os mais vulneráveis. Que possamos nos comprometer com a promoção de uma cultura mais ordeira, pontual e de convívio legal.

Não adianta fugir do Brasil, alegando que o país é corrupto, e ir para o estrangeiro ilegalmente. Não adianta fugir de uma realidade que nós produzimos. Vamos assumir nossas responsabilidades e educar nossos filhos nisso, e parar com este "mimimi" moralista. Não será a escola pública a nos ensinar ética. Capital moral é produzido por instituições que estão aí antes do Estado Moderno: igreja e família.

Chega de gambiarras morais!
10 de out. de 2014 | By: @igorpensar

Ação Prudente e Prudência Esperançosa

Sou extremamente simpático ao princípio de prudência de Russell Kirk. Porém, com alguma reserva, talvez por causa da noção de Abraham Kuyper de "graça comum".   Acho que, o conservadorismo político tem uma dependência escolástica, o que me impede de abraçar o princípio de prudência completamente.  Me parece que, biblicamente, Deus permeou sua criação com uma abertura estrutural para mudanças, e por esta razão, viabilizou a possibilidade de transformações políticas e sociais, sim.

Deus não permitiria a possibilidade de reorganização humana, invenção científica, inteligência e capacidades laboral e administrativa, se seu projeto fosse só um perene jardim (só precisaríamos de jardineiros ou no máximo engenheiros agrônomos).  Apocalipse 21 me mostra uma cidade, aspiramos por uma civilização que reflita a glória de Deus.  Ela virá dos céus, feitas por mãos divinas.  Mas, esta aspiração pela Civitas Dei nos move na cidade dos homens para salgá-la.  Por outro lado, nossas falíveis, mas ainda dadivosas conquistas políticas como democracia e liberdade de expressão são oriundas de processos que nos colocam em uma sociedade menos pior do que àquela autoritária, centralizadora e totalitária.  Graças a Deus!

Tais conquistas não seriam viáveis sem a mínima possibilidade de alguma mudança estrutural, a propósito, historicamente nada orgânica (concepção de reforma no pensamento conservador), mas em alguns casos resultado de intencionais ações políticas (cujas motivações é métodos são totalmente discutíveis).  Por outro lado, claro que o princípio de revolução como único meio para o progresso é muito vulnerável.  O princípio de prudência é necessário em um mundo fraturado pelo pecado.  O progressismo concebe moralmente o ser o humano em uma estima excessivamente elevada, ignorando sua fragilidade espiritual.   Por esta, e outras razões, que ainda acho que nosso patrimônio cristão, se bem lido, nos fornecerá uma compreensão alternativa que faça jus à complexidade do fenômeno político e social.  Pra mim, o cristianismo tem subsídios para um caminho alternativo para além da sedução progressista e da estagnação conservadora.  Precisamos de orientação cristã para uma ação prudente, e uma prudência esperançosa.
3 de out. de 2014 | By: @igorpensar

O gay não é o novo negro

O homossexual não é o novo negro e o novo judeu. Não acho justo com judeus e negros valer-se do holocausto e da escravidão como plataformas para defender a agenda LGBT como fez Luciana Genro no debate dos presidenciáveis da Globo. Por um motivo básico: o núcleo identitário de judeus e negros não é o afeto, eles encarnam étnica, cultural e inevitavelmente sua judaicidade e negritude.

De acordo com o Manual de Comunicação da Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais o termo 'orientação sexual' refere-se: "à capacidade de cada pessoa de ter uma profunda atração emocional, afetiva ou sexual por indivíduos de gênero diferente, do mesmo gênero ou de mais de um gênero, assim como ter relações íntimas e sexuais com essas pessoas." Judeus e negros são o que são por fatores identitários completamente diferentes daqueles suportados pela militância LGBT no Brasil.

Ser judeu e negro não depende de uma orientação, propensão ou disposição subjetiva, afetiva ou individualista, como propõe o Manual LGBT, mas de uma longa tradição histórica, cultural e étnica. As identidades judaica e negra localizam-se em um núcleo diametralmente oposto ao autodeterminismo sexual individualista que suporta a homossexualidade. Por esta razão, não é intelectualmente honesto se apropriar do sofrimento judaico e negro para alavancar a defesa de homossexuais. Para estes, o que se deve fazer é lhes garantir direitos humanos, precisamente o que fora ou tem sido feito com aqueles.
24 de set. de 2014 | By: @igorpensar

Religião de Cima pra Baixo

Não acho que religiões são caminhos alternativos para um mesmo fim. Acredito que existem diferentes religiões, diferentes concepções sobre a divindade e diferentes éticas religiosas. Logo, como cristão, sou obrigado a destacar a singularidade do cristianismo diante de outras expressões religiosas. Considerei seriamente durante parte de minha vida outras possibilidades de espiritualidade. Cheguei a pensar seriamente, em um determinado tempo de minha vida, a seguir um caminho pelo misticismo ou me converter formalmente ao judaísmo e coisas semelhantes. Ponderei, mas cheguei a conclusão que a maioria das religiões propõem uma espécie de espiritualidade "debaixo pra cima". 

As religiões em geral propõem uma espécie de ascensão a partir de determinadas performances. Ou seja, a elevação e a comunhão com o sagrado exige alguma coisa que você tem que "fazer" para chegar a Deus. Então, percebi, que salvo alguns formatos desinformados de espiritualidade cristã, o cristianismo é a única espiritualidade que afirma exatamente o contrário. 

A fé cristã é uma espiritualidade "de cima para baixo", isto é, o sagrado que vem na direção dos homens para salvá-los. O cristianismo afirma que não há nada que o homem possa fazer para se tornar aceito diante de Deus. Deus mesmo é quem faz e realiza a salvação. Por isso, Jesus Cristo é tão estimado pelo cristianismo. Pois Ele é a própria expressão de Deus indo em direção aos homens. O Deus encarnado, humanizado e vindo em resgate de suas "ovelhas perdidas". 

Não há nenhuma religião, além do cristianismo, que diga que Deus está em busca dos homens e que não há nada que eles possam fazer para se chegar a Deus. Esta iniciativa é uma exclusividade de Deus. Paulo, Agostinho e os reformadores identificavam este atributo divino de vir em direção aos homens para salvá-los com palavras como "graça" e "amor". 

Então, o cristianismo não é uma religião como as outras que propõem caminhos alternativos para chegar ao Deus que está no topo da montanha. A fé cristã é a única espiritualidade que diz que Deus desceu da montanha para resgatar homens que o ignoravam. Este é o escândalo do cristianismo e sua maior virtude.
23 de set. de 2014 | By: @igorpensar

Barco Vazio

"From the stern to the bow
Oh; my boat is empty
Yes, my heart is empty
From the hole to the how"

"Da proa à curva
Oh; meu barco está vazio
Sim, meu coração está vazio
Do furo ao como"

(Música The Empty Boat de Caetano Veloso)

A descrição do abismo que se instala no centro da existência humana. Todos os homens são acometidos por esta perda de sentido, esta falta de amparo e esta incompletude. O mestre cristão africano Agostinho em uma jornada espiritual, descreve esta perturbadora ausência, em lágrimas, grita aos céus por alívio. Repentinamente, ao voltar-se para Cristo, depositando nele sua confiança, vê-se invadido de indescritível alegria e plenitude. Torna-se disposto a sacrificar tudo. E isto, apenas porque percebeu um suave hálito da eternidade, o que dirá quando estiver imerso em um mundo onde o conhecimento do Senhor cobrirá a terra, como as águas cobrem o mar. Cristo não quer seu barco vazio
12 de set. de 2014 | By: @igorpensar

Racismo é Anticristão

Racismo é moralmente anticristão pois fere o princípio bíblico da universalidade da dignidade humana.  Todos procedem de uma única criação e um único evento de amor em Deus.  Nicholas Wolterstorff é muito competente em demonstrar a singularidade da tradição judaico-cristã em sustentar que todos os seres humanos foram criados iguais, e que tal dignidade encontra-se na imagem e semelhança de Deus.  Sem esta referência, direitos humanos universais seriam impensáveis.  Ainda, o racismo fere o princípio bíblico de que Deus se move na história para salvar todos os povos, línguas e nações.  Até mesmo entre aqueles que acreditam em predestinação, a eleição divina não encontra nenhuma mérito ou critério nas pessoas, mas antes, reside em seu amor incondicional.

Na biografia do patriarca Abraão encontra-se este promessa, e ela permeia toda narrativa da Bíblia Hebraica, passa pelos profetas e está na história do profeta Jonas, que tem que renunciar seu etnocentrismo para ir aos ninivitas. Em Jesus, um centurião romano, uma mulher fenícia, outra samaritana, gregos e publicanos são acolhidos. Na cruz, a inimizade é superada, a barreira de separação entre judeus e gentios é derrubada (Ef 2:12 e seg.).  E mais uma vez, a história sintetiza a vocação universal do cristianismo em acolher todo tipo de gente.  De fato, sua beleza está em sua capacidade de acolher toda diversidade cultural e étnica.  E o mais incrível, na doutrina da adoção, na filiação obtida pela graça, a diversidade torna-se em indissolúvel unidade no Filho de Deus.   Cristo, diria Bonhoeffer, é a interface entre o cristão e seu próximo.  A tolerância e o amor do cristão fundam-se em Jesus.

Finalmente um novo Adão emerge de Cristo, uma nova humanidade. Logo, racismo, etnocentrismo, xenofobia, antissemitismo ou exclusão social, étnico ou cultural de qualquer natureza são inconsistentes com a fé cristã.  Racismo seria uma espécie de afronta à unidade e a diversidade que são inerentes à natureza uni-trinitária de Deus.
9 de set. de 2014 | By: @igorpensar

Apatia Evangelizadora

A apatia evangelizadora é fruto de uma apatia diante do Evangelho mesmo. Uma falta de reação diante do amor. A única reação ao amor de Deus que nos foi revelado em Cristo é amar. Amar não é uma espécie de experiência emocionalista, é uma pulsão graciosa que nasce de um amor evento, refiro-me à encarnação e à cruz.

O esvaziamento de Cristo, na encarnação, tem implicações missiológicas absurdas. Não há missão sem amor, não há amor sem renúncia, e não há missão sem encarnação. Se Deus se revestiu de nossa humanidade para nos salvar, pelo amor que desfrutamos em Cristo deveríamos nos revestir de avassaladora compaixão. Compaixão que fez Jesus chorar por uma cidade (Jerusalém). Compaixão que fez Paulo perambular por Atenas. Compaixão que nos faz estudar e nos compadecer da cidade, para nela, manifestarmos os benefícios da graça de Deus reveladas em Cristo Jesus.

Evangelizar não é um proselitismo legalista baseado no constrangimento, é comunicar que Deus está amando pecadores dignos de sua indignação. Porém, se este evangelho não alcançou o coração de um "cristão", obviamente, ele nunca evangelizará. Pois o que faz homens e mulheres darem um salto na missão é que foram feridos pelo Evangelho (o amor), por isso, não têm outra opção, amam ardentemente aquele que os salvou, por isso evangelizam.
27 de ago. de 2014 | By: @igorpensar

Eleição: opções, ações e intenções

Claro que os fins não justificam os meios. Mas ainda é possível dizer se um determinado "fim" teve efeitos benéficos ou não. Uma pessoa que ajuda um morador de rua doando-lhe um cobertor em uma noite fria, ainda que o faça por motivos moralistas ou procurando alívio para sua consciência, faz uma ação social e objetivamente boa, apesar de essencialmente comprometida. Quando Ciro, liberou os israelitas a retornarem para Jerusalém durante o exílio, não o fez baseado em pressupostos piedosos, ele era pagão. Ainda assim, chamado de "ungido". Os poderes ainda são constituídos por Deus. Nestes termos, não acho suficiente, o que não significa que não seja fundamental, adotar a moldura ideológica como único critério para se votar em alguém. 

Se um candidato tem como matriz ideológica o marxismo, paradigma que tenho reservas por "n" motivos, e propõe um plano de ação que favorecerá a justiça pública, o ordenamento social e a proteção da dignidade humana, devo considerar seriamente que este sujeito seja digno do meu voto. Logo, o critério ideológico, principalmente na atual conjuntura política, não pode ser o ÚNICO critério, ele parece demasiadamente insuficiente. Associado a ele, parece plausível considerar o que mencionei acima: a competência e as intenções objetivas em relação à vida em sociedade. 

Um marxista pode se engajar em questões públicas melhor do que muita gente liberal, ainda que por razões altamente questionáveis. Da mesma forma, um liberal pode fazer coisas que são de alta relevância pública, ainda que, por razões igualmente questionáveis. Assim, não deixe que o critério ideológico seja o único instrumento de análise de um candidato, leia sua plataforma de ação, considere seu histórico e ore pedindo a Deus sabedoria neste momento tão importante.
22 de ago. de 2014 | By: @igorpensar

Uma Fé nada Confortável

C.S. Lewis foi muito cuidadoso ao alertar que o cristianismo não é uma religião confortável, e que, obviamente, não era aconselhada para os que querem viver a vida no presente tempo sem desconfortos. Como acho que religiosidade é algo que se discute, devemos reconhecer que existem religiões e versões de cristianismo demasiadamente "fofinhas" um espécie de "religiosidade de pelúcia" (parafraseando o amigo Aender Borba). Indo direto ao ponto: o cristão é chamado a viver uma vida frágil e vulnerável. Fico preocupado com cristãos lutando dia e noite em busca de estabilidade financeira e estrutural, como se a temporalidade fosse um fim em si mesmo. E quando olho pras Escrituras, sempre vejo algo relacionado a "tomar a cruz", "pobre de espírito" e "negar a si mesmo" etc. Então, aviso aos navegantes, que se você foi atingido pela cruz, o único lugar seguro pra você no mundo é o Crucificado. Neste ínterim, saiba que seus projetos de estabilidade sempre estarão ameaçados. Pois confiar energia em tais projetos é construir uma casa sobre a areia, como dizia Jesus. Logo, entenda, que livramentos virão, mas contradições e crises estarão muito presentes. A diferença básica é que se elas acontecerem e se seus velhos ídolos estilhaçarem, sua vida não virará pó junto com eles, precisamente porque sua existência estará construída sobre a Rocha que é o Cristo.
20 de ago. de 2014 | By: @igorpensar

Novos Cristãos Nominais

Não tenho dúvida de que o movimento pietista tem seu lugar na história do protestantismo. Mais tarde, as marcas de sua ênfase na conversão pessoal, permearão as diversas tradições cristãs, até mesmo a católica (movimento carismático). Não dá pra lidar com a fé em Cristo de forma apenas cognitiva, impessoal e árida. A ênfase evangélica era uma denúncia ao nominalismo (cristãos nominais), a uma adesão fria e formalista ao Cristo e ao cristianismo. 

Porém, agora, também percebo outra ameaça: novos cristãos nominais, porém, aqueles cheios de trejeitos emocionalistas, que reproduzem uma performance corporal e enfatizam excessivamente a experiência. Nestes casos, acabam se tornando um tipo de cristão místico, etéreo e em busca por um êxtase, um tipo de arrebatamento da realidade. Não poucas vezes, se acham mais cristãos ou mais espirituais do que aqueles de ambientes liturgicamente mais estruturados ou rotulados como "menos expressivos". Também é verdade que comunidades mais tradicionais tem seus ídolos, como Kevin DeYoung observa, entretanto, eles estão em grande desvantagem, se comparados com a grande massa evangélica. Entre estes, e reconheço que há algo no evangelicalismo de extremo valor, há muita gente que vive de chavões, maneirismos e gesticulações, ou seja, querem a performance, mas não querem o conteúdo. 

Minha pergunta então é bem objetiva, a mesma que foi feita por cristãos pietistas no século XVII, ante o formalismo de outrora: são cristãos? Faça perguntas simples sobre doutrinas caras ao protestantismo: o que é justificação? O que é regeneração? O que é a adoção? Como o homem é santificado? Por que Cristo? Por que a cruz? Por que a ressurreição? Por que a mediação de Cristo? O que é a trindade? Faça essas perguntas e você verá um novo nominalismo, só que agora com um pouco mais de coreografia.
13 de ago. de 2014 | By: @igorpensar

Reino de Deus e Mandato Cultural



Morte de Eduardo e agora Marina?

Com a recente notícia de falecimento em um acidente aéreo de Eduardo Campos, ex-candidato à presidência da república pelo PSB, uma pergunta dispara imediatamente: Marina Silva poderá ser a candidata suplente pelo partido? Cito na íntegra a Resolução 023405 de 24 DE FEVEREIRO DE 2014, que rege as eleições de 2014:

"Art. 61. É facultado ao partido político ou à coligação substituir candidato que tiver seu registro indeferido, inclusive por inelegibilidade, cancelado ou cassado, ou, ainda, que renunciar ou falecer após o termo final do prazo do registro (Lei nº 9.504/97, art. 13, caput; LC nº 64/90, art. 17; Código Eleitoral, art. 101, § 1º). § 1º A escolha do substituto será feita na forma estabelecida no estatuto do partido político a que pertencer o substituído, devendo o pedido de registro ser requerido até 10 dias contados do fato ou da notificação do partido da decisão judicial que deu origem à substituição (Lei nº 9.504/97, art. 13, § 1º). § 2º A substituição poderá ser requerida até 20 dias antes do pleito, exceto no caso de falecimento, quando poderá ser solicitada mesmo após esse prazo, observado em qualquer hipótese o prazo previsto no parágrafo anterior. § 3º Nas eleições majoritárias, se o candidato for de coligação, a substituição deverá ser feita por decisão da maioria absoluta dos órgãos executivos de direção dos partidos políticos coligados, podendo o substituto ser filiado a qualquer partido dela integrante, desde que o partido político ao qual pertencia o substituído renuncie ao direito de preferência (Lei nº 9.504/97, art. 13, § 2º). § 4º Se ocorrer a substituição de candidatos a cargo majoritário após a geração das tabelas para elaboração da lista de candidatos e preparação das urnas, o substituto concorrerá com o nome, o número e, na urna eletrônica, com a fotografia do substituído, computando-se àquele os votos a este atribuídos. § 5º Na hipótese de substituição, caberá ao partido político e/ou coligação do substituto dar ampla divulgação ao fato para esclarecimento do eleitorado, sem prejuízo da divulgação também por outros candidatos, partidos políticos e/ou coligações e, ainda, pela Justiça Eleitoral, inclusive nas próprias Seções Eleitorais, quando determinado ou autorizado pela autoridade eleitoral competente."

(Grifo nosso)
Tirem suas conclusões!

Acompanhe a conversa aqui:



12 de ago. de 2014 | By: @igorpensar

Sacro Sexo

Sexo tornou-se algo muito "poderoso" em nossa cultura. Poucas coisas não fazem alusão ao intercurso humano. A insinuação erótica está presente em muitas esferas da vida. Mesmo coisas sem qualquer relação com a sexualidade, precisam ser acompanhadas de um tempero de erotismo para terem alguma aceitação cultural. Às vezes, fico pensando, que a "chatice" cristã de valorização da castidade, da vida sexual dentro dos limites do matrimônio, seja, de fato, uma antiga sabedoria para proteger algo de elevada beleza. Enfim, ou o sexo é um ato desprezível, o que me nego a aceitar, ou ele é tão sacro que seja digno de uma moldura moral. Se a segunda opção é a correta, deveríamos considerar seriamente valores cristãos que denunciam como pecado: a fornicação, o adultério, a prostituição e o homossexualismo.

Senhorio de Cristo

7 de ago. de 2014 | By: @igorpensar

Que inferno!

Seres humanos são obstinados por criar ou desejar um mundo ou uma realidade onde Deus não está lá. Um lugar onde não é preciso dizer "seja feita a tua vontade". Por enquanto, desfrutam de uma vida onde Deus ainda está presente, apesar do esforço coletivo em ignorá-lo. Porém um dia, salvo se não forem alcançados pela graça, terão o que sempre desejaram: uma realidade onde Deus está ausente. A este lugar damos o nome de inferno.

Claustrofobia

É perturbador viver em um mundo onde mulheres são reduzidas a partes de sua existência (lê-se seios e nádegas), homens são reduzidos ao desempenho de uma única relação (aquela de natureza sexual), e nossa cultura é reduzida a um único desejo (o prazer). Honestamente, isto dá claustrofobia. Este mundo é deveras apertado e pequeno demais para nós seres criados à imagem e semelhança de Deus.
5 de ago. de 2014 | By: @igorpensar

Curtíssima: Em fuga!

A narrativa bíblica fala de um casal que se envergonhou de sua desobediência a Deus. Adão e Eva se esconderam entre as árvores do jardim, e fizeram vestimentas de folhas de figueira para omitirem sua nudez. O texto já foi ridicularizado pela cultura ocidental, é representado de forma irônica nas mentes e nas artes. Mas, a imagem é profunda. Retrata o ser humano em permanente fuga, e para lidar com este desconforto, ele recorre a artimanhas: folhas de figueira, civilizações, intelectualismo, legalismo, auto-ajuda, hipocrisia, vícios, narcisismo, religiões confortáveis, psicologias de auto-afirmação, tecnologia, consumismo e por aí vai. O ser humano não mudou, continua o mesmo, apenas se tornou um pouco mais sofisticado na arte de se esconder de Deus. #devocional
30 de jul. de 2014 | By: @igorpensar

Liberdade e Tirania

Jean Baudrillard enuncia: na era pós-orgíaca, só resta repetição. Isto faz algum sentido. Testaram todos os limites, romperam todos os tabus, só restou post-coital tristesse. Claro, que em mundo de tanta liberdade, o pessoal iria sentir saudades do tempo de outrora. Não me surpreenderia, se diante da voz viril de um patriarca centralizador, a meninada vestida preto corresse como uma gazela saltitante para o curral da tirania. Por estas e outras, que mais uma vez, o evangelho nos educa, nos ensina: se você não se curvar diante do Crucificado, vai se curvar diante de um tirano inevitavelmente.
19 de jul. de 2014 | By: @igorpensar

Veritas

McGrath assevera que o termo "verdade" tem um sentido diferente nas Escrituras daquilo que é ensinado pela mentalidade iluminista. Nas escrituras, a "verdade" é uma grande narrativa, não pode ser compreendida fora de um drama pessoal e historicamente situado. A verdade cristã depende de um tipo de confiança existencial que emerge na relação com um Deus que se revela no tempo. Para a mentalidade iluminista, a verdade precisa ser supra-histórica, religiosamente neutra e supra-humana. 

A verdade cristã se encarnou, assumiu a imanência e a temporalidade em Jesus. Ela é pessoalmente encarnada na dramaticidade do tempo e da história. A verdade cristã é uma pessoa, revelada por uma narrativa inspirada e providenciada pelo Espírito Santo nas Escrituras. Verdade infalível e confiável, não por ser uma "verdade" abstrata sem as "contaminações" do tempo e da experiência, como temia o pensamento cartesiano. Sua infalibilidade e confiabilidade são testemunhadas pelo Espírito dos Profetas que ilumina o coração daquele a quem Deus quer se revelar (contribuição de Calvino para a teologia ocidental), uma verdade providencial. Sua verdade torna-se nítida na medida que nos relacionamos com a pessoalidade de Deus em Jesus Cristo. A verdade cristã é teimosamente encarnacional.
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Por Igor Miguel
14 de jul. de 2014 | By: @igorpensar

Israel e Palestina: considerações

Estive em Israel algumas vezes, em 2007, ganhei uma bolsa acadêmica para um curso no Museu do Holocausto (Yad Vashem) e na Universidade Hebraica de Jerusalém, na ocasião pude ver de mais perto a complexidade da relação palestino-israelense.  E depois, de algum tempo, adoto os seguintes princípios, que espero, ajudem algumas pessoas a se posicionarem a respeito desta complexa relação:

1) Antissemitismo (inimizade em relação aos judeus por razões étnicas ou religiosas) é anticristão, por alguns motivos:
  • O povo judeu é um testemunho histórico da veracidade das Escrituras;
  • O povo judeu é de onde emergiu Jesus Cristo;
  • Fere o princípio cristão básico de amor ao próximo.

2) O povo judeu,diferente de muitas comunidades do ocidente, tem uma prática cultural baseada na memória. Se para nós, em geral, o passado é algo facilmente esquecido, para os judeus, o passado é ritualizado e sua memória transmitida pelas gerações. Logo, eventos como o holocausto, a expulsão romana, e até mesmo o Êxodo Bíblico, são eventos sempre presentes na memória judaica. Isso é parte de sua cosmovisão, seja para bem ou para mal.

3) O holocausto é um evento com marcas ainda presentes na cultura judaica em geral. Assim, diante de inúmeras ameças da diáspora, que teve seu clímax nos campos de extermínio, não há outra opção para o povo judeu se não uma terra (nação) com autonomia política e militar. E não há outra opção em relação à civilização ocidental: não permitir que um novo holocausto aconteça, seja a que povo for.

4) Os judeus foram expulsos pelo imperador Adriano (por volta do II século d.C.) de seu território depois de um longo esforço militar fracassado para se libertarem da tirania do império romano. Então, considere este evento como algo com consequências históricas muito sérias. Não olhe para os problemas políticos relacionados aos judeus como um fenômeno apenas da modernidade, este é um erro crasso. Como disse,grande parte da mentalidade e expectativas judaicas têm raízes profundas em eventos pré-modernos.

5) Um cristão não pode ser considerado antissemita pelo simples fato de sustentar a teologia bíblica e cristã de que o título “povo de Deus” é uma exclusividade daqueles que se ligam a Deus por meio de Jesus Cristo. Por inúmeras razões teológicas, obviamente descartadas por judeus, cristãos insistem que não há eleição fora de Jesus. E, por esta razão, Deus não tem dois povos, mas apenas um: aquele que se liga a seu Messias Jesus (seja judeu ou gentio). Claro, que isto não implica em rejeição a tudo que Deus fez outrora com os profetas e patriarcas, ao contrário, em Jesus, Israel encontra toda sua plenitude. Considere ler o texto “Israel de Deus” de minha autoria, em que trato sobre o assunto.

6) Há marcas indeléveis nas práticas culturais e étnicas dos judeus que remetem a revelação de Deus na Bíblia Hebraica (Antigo Testamento). Isto não pode ser ignorado por cristãos quando pensam em um posicionamento em relação aos judeus e ao moderno estado judaico.

7) Um cristão pode discordar dos métodos militares e políticos como o estado moderno de Israel se organiza ou foi estabelecido, e isto não implicaria necessariamente em antissemitismo. Porém, deve ser cuidadoso, pois muitas vezes um sentimento antissionista oculta um sentimento antissemita. Este último é pecaminoso, enquanto aquele pode ter apenas razões políticas, e no quesito político o debate ainda está aberto. Porém, antes de se posicionar como antissionista, ou seja,como alguém que discorda do direito do judeu ter uma terra, pense se o que você tem não é uma posição crítica a algumas formas como o sionismo acontece, e não ao sionismo em si.

8) Cristãos podem discordar livremente de algumas formas como a política israelense acontece, desde que apresentem razões plausíveis para isto. Esta discordância não implicaria em antissemitismo. Israelenses podem agir de forma arbitrária e injusta, o que aconteceu, acontece e acontecerá. Eles não estão isentos de erros inerentes a seres humanos. A doutrina cristã da radicalidade do pecado em seres humanos não isenta ninguém, nem mesmo cristãos ou judeus, da possibilidade de corrupção e injustiça.

9) Muitos dos boicotes, oposições e discurso antissionistas que existem hoje,principalmente oriundos da esquerda política e da nova esquerda ocidental, estão carregados de sentimento antissemita. E simplesmente, ignora-se a complexidade cultural inerente a grupos claramente terroristas. O “hamás” e o “hezbolah” não são grupos 'revolucionários', são movimentos islamistas fundamentalistas que se valem de metodologias imorais para lograrem êxito em suas iniciativas. Não estão dispostos ao diálogo nem com seus pares.

10) Enfim, cristãos não podem “canonizar” o Israel moderno, e tornarem-se acríticos em relação a suas ações políticas e militares. Existe uma apoio acrítico por parte de alguns cristãos evangélicos por causa da influência da teologia dispensacionalista. Se não sabe o que é isto, pesquise sobre o assunto. Tanto palestinos quanto judeus têm o direito de viverem em paz, e penso, ambos tem o direito a uma nação e a uma identidade nacional. Não há soluções mágicas para a tensão entre Israel e Palestina, este é um conflito com raízes no passado, porém, criminalizar de forma arbitrária tanto israelenses como palestinos, pode incorrer em análises injustas da situação.

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Por Igor Miguel
23 de jun. de 2014 | By: @igorpensar

Violência e Violação

"Tio, quer fazer 'boquete'? Um real tio!" (menina de 8 anos).

Costumo dizer a sócio-educadores e alunos que violência é toda violação da dignidade humana. O cristianismo me ensinou que seres humanos foram criados à imagem e semelhança de Deus. Logo, são portadores de um dignidade que alude ao Criador. Quando Caim matou Abel, a primeira narrativa bíblica de um homicídio, ele se movia em violência contra Deus, mas como não podia eliminá-lo, eliminou sua alusão, seu semelhante. Na raiz da violência encontra-se uma inimizade contra o próprio Deus. Por traz do homicida há uma pulsão deicida. O ápice desta intensão está no Cristo crucificado, os homens festejam o triunfo contra Deus, mas lá, Deus mesmo estava triunfando. Acolhendo na carne de seu filho todo nosso ódio e violência, das gotas de sangue que respingavam em seus atrozes, encontravam-se gotas de graça e misericórdia sobre muitos. Enquanto há abuso, assédio moral, exploração, estupro, agressão, segregação, racismo, trabalho escravo e ignorância, estamos diante deste ódio ao Criador que se reflete em violência contra suas criaturas. Assim, quando um cristão se lamenta e se opõe contra a violência a seres humanos, ele lamenta e se opõe à inimizade humana contra Deus.




7 de jun. de 2014 | By: @igorpensar

Kuyper: propriedade privada relativa

Definitivamente, a proposta político-econômica de Abraham Kuyper, cuja raiz bíblico-cristã é irremediável, não se enquadra a nenhuma das vias ideológicas aí presentes.

"O que social democratas chamam de 'comunidade de bens' nunca existiu nem em Israel, tão pouco na primeira comunidade cristã; uma absoluta comunidade de bens não aparece em nenhum lugar das Escrituras; mas as Escrituras também excluem precisamente e completamente qualquer ilusão de um direito à propriedade em que você a tem disponível de forma absoluta, como se você fosse Deus, sem considerar as necessidades dos outros."

Fonte: Christianity and Class Stuggle -- Cristianismo e Luta de Classes - por Abraham Kuyper, p.54 - tradução nossa.
6 de jun. de 2014 | By: @igorpensar

Fé Cristã e Academia [Mosaico]

As implicações de um "Cristianismo Público" na academia.  Não basta ser cristão na academia, é necessária uma postura cristã na prática acadêmica em si.  Trecho do bate-papo do Movimento Mosaico em Goiânia.


31 de mai. de 2014 | By: @igorpensar

Não é Pecado Enriquecer (Baggio)

Bem, depois de ver a reação geral no mural do Sandro R. Baggio quando disse que "não é pecado enriquecer", acredito que a experiência foi válida para chegarmos a algumas conclusões. A partir das reações à frase percebemos que há sim uma devastadora influência do que chamamos de "materialismo histórico dialético", ou seja, uma ênfase que concentra o ponto de tensão (antítese) na "apropriação ou não do capital". Observe o problema aqui. Estamos falando de uma visão de mundo baseada no "ter", na "posse", o critério ontológico para o polo da prosperidade ou para o polo revolucionário é o mesmo. Ambos fundamentam sua metafísica (que ironia) na relação com a (des)apropriação de bens. Trocando em miúdos: o que determina a virtude ou o fundamento da existência humana em ambos os casos é se alguém tem (prosperidade financeira) ou não tem (pobreza financeira). 

Há um tipo de "teodiceia exógena" (já falei sobre isso aqui), traduzindo, a viciante e insistente filosofia que transfere o mal ou encontra sua raiz em causas externas, em dimensões estruturais. A influência rousseauniana, para não falar em um tipo de antropologia pelagiana aqui, é evidente. Entretanto, estamos todos cônscios que a cosmovisão cristã é radical em afirmar que o mal está no homem.  Esta é a antropologia evangélica e agostiniana: a comunidade humana é irremediavelmente corruptível, e que toda ação moral é, em última instância, fruto da graça de Deus. 

Assim, se existem estruturas injustas no mundo, nas relações de poder, nas trocas sociais ou na cultura, isto se deve aos efeitos da desobediência e rebeldia da comunidade humana em relação ao Criador. O proletariado caído se derrubar o burguês caído se mostrará corruptível até mesmo nos métodos para derrubá-lo. Nós não tocamos nas coisas e elas viram ouro, elas viram barro. Por isso Paulo diz, que o ouro é o depósito em vasos de barro, é graça. Assim, para usar a inevitável analogia, existem outras riquezas e outras pobrezas.  E de fato, nossa guerra não é contra um mal chamado dinheiro, mas um mal chamado pecado.  E parafraseando Francis Schaeffer: tudo é espiritual, exceto o pecado.

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Igor Miguel
27 de mai. de 2014 | By: @igorpensar

Patrimônio dos Pobres

"Tudo quanto a Igreja possui, seja em propriedade, seja em dinheiro, é patrimônio dos pobres. E assim freqüentemente ali é entoada esta cantilena aos bispos e diáconos: que se lembrem que estão a manejar não valores próprios, mas os destinados à necessidade dos pobres; valores que, se de má fé são suprimidos ou dilapidados, se constituem réus de sangue. Daí serem admoestados a que, com sumo tremor e reverência, como à vista de Deus, os distribuam, sem acepção de pessoas, àqueles a quem se devem. Daqui também aquelas sérias reiterações em Crisóstomo, Ambrósio, Agostinho e outros bispos como eles com as quais diante do povo asseveram sua integridade." (João Calvino, em Institutas, Livro IV, Capítulo XIII).
20 de mai. de 2014 | By: @igorpensar

Missão Integral & Entrevista

Compartilho a excelente entrevista dada ao programa Academia em Debate da TV Mackenzie. E logo abaixo, ponderações pessoais a respeito do conteúdo da entrevista.




Missão Integral: ponderações à entrevista de
Jonas Madureira e Filipe Fontes1

Por Igor Miguel2


Acabei de assistir a entrevista do mano e Prof. Jonas Madureira e o Prof. Filipe Fontes disponível neste endereço https://www.youtube.com/watch?v=34PPk-sCNhU. Não sou nenhum especialista em temas teológicos. Como digo, da teologia deleito-me com o que julgo ser fundamental para minha existência e fé em Cristo. Sou obrigado como cristão a dar razão para minha fé e missão. Logo, minha posição aqui é passível de inúmeras objeções ou contra-argumentos, e estou aberto a elas.

Lembrando que Jonas é um amigo de fé e jornada, e sou admirador de seus textos e falas, aprendo muito com ele. Ele sabe disso. Quanto ao Filipe, não o conheço, mas gostei de sua participação na entrevista. De qualquer forma, considerem meus apontamentos aqui fruto de um interesse profundo de aprendizagem mútua. E claro, uma conversa doméstica ao cheiro virtual de um bom café. Sendo assim, trato ideias e não pessoas, até pelo motivo de respeitá-las.

Primeiro, considero a entrevista de boa qualidade. As perguntas levantadas pelo Rev Augustus Nicodemus foram pertinentes e tocaram em aspectos sensíveis no debate a respeito da teologia da missão integral.

Segundo, em geral, a entrevista foi precisa nas objeções apresentadas. Posso dizer que a entrevista é indicadíssima em termos teológicos. Não tenho dúvida de que há uma dependência de ideologias orientadas à esquerda entre os propagadores da teologia da missão integral. Isto a tal ponto, que o termo “missão integral” se tornou, como observado na entrevista, quase um sinônimo de uma espécie de “teologia de esquerda”, ou ainda, uma equivalência evangélica da teologia da libertação. Concordo com a ausência ou falta de clareza metodológicas entre os proponentes da missão integral e que há um certo ufanismo anti-imperialista, traduzido, muitas vezes, em um insistente desejo de elaboração de uma “teologia sul-americana”. Claramente, reproduções, ou no mínimo, reverberações ideológicas revolucionárias.

Além disso, uma objeção forte refere-se à dependência de certa epistemologia sociológica, e seu discurso como interface científica de modo a aproximar uma teologia que lida com questões de natureza social. Eu percebi isso, e não somente eu, que no documento provisório apresentado na recente Consulta do Movimento Lausanne, em Atibaia-SP, havia um tom excessivamente sociológico, quando deveria ser mais teológico. Claro, isto sem desconsiderar as implicações sociológicas da teologia da prosperidade, objeto daquele documento. De qualquer forma, um documento que represente o posicionamento da igreja evangélica brasileira deveria ser elaborado a partir da gramática da igreja, que é fundamentalmente teológica.

Chamo a atenção para o cuidado dos entrevistados em afirmar que há algo aí que a teologia da missão integral detectou que é legítimo, e que em geral, evangelicais históricos e ortodoxos, ignoram. O problema da pobreza deve ser tratado por cristãos de alguma forma. Claro, os encontros de Lausanne eram pra lidar com os rumos da missão no mundo moderno e globalizado, o que implicava também, em certa complexidade missiológica. O mundo tornou-se deveras multifacetado, obviamente, os desafios missionários tornaram-se igualmente complexos. Logo, isto exigia uma definição geral dos rumos da Grande Comissão, principalmente ante os novos desafios, o que incluiria o problema da pobreza.

Também percebo no discurso da teologia da missão integral a busca por um apoio em Lausanne, que não considera seriamente todas as implicações de um “Cristo todo, para o homem todo”. E, ironicamente, às vezes o que é chamado de missão integral acaba sendo uma missão reducionista. Pois ao reconhecer a necessidade de uma missão abrangente, acaba por concentrá-la apenas à dimensão social, o que pode ser mais uma evidência da influência da sociologia materialista histórica. Os entrevistados chamaram a atenção para esta fraqueza.

Agora, minhas observações. Bem, reconheço que a adoção de uma distinção entre missão e evangelismo é consistente. Bom lembrar que o termo “missão” foi elaborado historicamente para descrever aquilo que Deus confiou à Igreja e aos cristãos como tarefa a ser cumprida. Um termo exógeno à revelação que sintetiza uma verdade escriturística: o cristão e a igreja têm uma tarefa a cumprir. Entretanto, sou favorável a uma percepção mais abrangente (não digo em importância, mas em aspectos) do termo “missão”. Guilherme de Carvalho (2009) defende esta distinção também, a missão é abrangente, inclui tudo aquilo que Deus comissionou o novo homem recriado em Cristo e que vive sob seu senhorio: o que abrangeria os mandatos criacionais (religioso, cultural e social), e claro, o anúncio do Evangelho.

Não vou aqui repetir, o que todos deveriam ler: a genealogia da evolução teológica de Lausanne já elaborada e publicada em português, bem como uma proposta teológica alternativa e reformada ao predominante e enviesado discurso da missão integral (ibid., 2009). Não vi ninguém fazendo uma séria objeção ao que me refiro aqui, considerem seriamente os textos mencionados.

Mas, enfim, nesses artigos, o autor demonstra que a evolução do debate sobre a relação evangelismo e ação social passou por várias propostas: desde umas mais fundamentalistas, que insistiam em uma clara distinção, quase que ignorando totalmente o cuidado cristão com os mais pobres; até aqueles em um espectro mais à esquerda (com alguma aproximação de uma teologia mais liberal), que quase fundia o sentido de Evangelho com cuidado com os pobres. O que ao norte seria imediatamente associado ao que é chamado de Evangelho Social.

Por fim há os que preferem um posicionamento mais sóbrio. O que significaria que a missão cristã é abrangente e deve ter em seu escopo o evangelismo. O evangelismo não deveria ser confundido com ação social, mas esta também não deveria ser colocada em tensão com aquela. Antes, deveriam ser concomitantes. Afinal, a fé deve ser acompanhada de obras. O anúncio não deveria estar desassociado do testemunho. Timothy Keller (2013) também trata esta questão de forma bem simples, mas com uma precisão magistral: “o evangelho produz interesse pelo pobre e as obras de justiça dão credibilidade à pregação do evangelho. Em outras palavras, justificação pela fé nos leva a fazer justiça, e fazer justiça leva muitos a buscar a justificação pela fé.” (p.142).

Na entrevista, parece que não ficou clara esta distinção. De qualquer forma, alegar que a única tarefa da igreja, ou seja, sua missão, é exclusivamente “evangelística”, seria ignorar textos bíblicos sérios. Como, por exemplo, aqueles que dizem que Deus tem remido para si um povo “zeloso e de boas obras” (Tt 2:14); que Deus nos criou em Cristo para “boas obras” (Ef 2:10); que as obras do discípulo fazem os homens glorificar a Deus, como ensinado por Jesus no Sermão da Montanha (Mt 5:16); e finalmente, a conhecida exortação de Tiago a respeito das obras como evidências da fé.

Quando se fala de obras, fala-se de todo mandato adâmico que fora reconstituído na nova humanidade que emerge de Jesus. Temos que cultivar um jardim para a glória de Deus. E isto inclui, apesar de não exclusivamente, o cuidado com o mais vulnerável, como nos ensinou Jesus por meio da parábola do bom samaritano.

No que tange a nossa tradição reformada, esta ênfase abrangente da tarefa cristã, é claramente reconhecida no “amor ao próximo”. Claro que o melhor que podemos oferecer aos homens é a boa-nova, mas ela não deveria ser concorrente ou ameaçadora em relação a outras tarefas implicadas na missão cristã. Que como disse, sou favorável a uma concepção lato sensu.

Assim, repito, deveríamos reconhecer que a missão é integral sim, independente do termo estar deveras intrincado com teologias ideologicamente enviesadas, ainda assim, deveríamos considerar o sentido do termo. Uma missão integral é a tarefa cristã que reconhece que não há dimensão neutra da existência humana. Reduzir a missão à dimensão da justiça social, seria contradizer a natureza integral da missão. Ela toca nesta dimensão, mas também, opera na academia, na ciência, na política, nas artes e em todas estas esferas.

Se reconhecemos que a missão cristã é integral, o fazemos por considerar que Cristo reina integralmente. Se o senhorio de Cristo é o que orienta nossa missão, é bom mencionar que temos subsídio em nossa tradição, em particular a reformada, para uma missiologia integral. Refiro-me, em particular, ao que encontramos em Abraham Kuyper, ou no que chamamos de neocalvinismo. Mas, isto seria outra conversa. Aos mais corajosos, deixo a indicação dos textos: A Missão Integral na Encruzilhada: reconsiderando a tensão no pensamento teológico de Lausanne e O Senhorio de Cristo e a Missão da Igreja na Cultura: a ideia de soberania e sua aplicação (Carvalho, 2009). Pois estou longe de ser o primeiro a defender uma tese missiológica neste sentido.


REFERÊNCIAS

CARVALHO, Guilherme de. A Missão Integral na Encruzilhada: reconsiderando a tensão no pensamento teológico de Lausanne e O Senhorio de Cristo e a Missão da Igreja na Cultura: a ideia de soberania e sua aplicação In.: RAMOS, Leonardo. CAMARGO, Marcel. AMORIM, Rodolfo. Fé Cristã e Cultura Contemporânea: cosmovisão cirstã, igreja local e transformação integral. Viçosa: Ultimato, 2009. p.11-95.

KELLER, Timothy. Justiça Generosa: a graça de Deus e a justiça social. São Paulo: Vida Nova, 2013.

1 Fiz um breve comentário no mural do Facebook do amigo Paulo Dib a respeito do vídeo. Jonas considerou minhas ponderações sinteticamente lá publicadas. Agradeço pela concordância com os pontos lá levantados. Este texto é uma versão expandida.