7 de fev. de 2011 | By: @igorpensar

Princípios na Missão

Por Igor Miguel

Como trabalhamos diretamente (face-to-face) com crianças e adolescentes que carecem de atenção e processos educativos adicionais, procuramos integrar nossa vocação pedagógica com vocação missionária. Como sei que muitos dos que visitam este blog estão engajados em missões urbanas, missão transcultural, missão integral, transformação comunitária e similares, desejamos compartilhar alguns princípios missiológicos que nos ajudam muito durante os trabalhos que realizamos com crianças/jovens/adolescentes em situação de risco:

1) Se vida transcende vida biológica, se o termo envolve a integralidade da vida humana, tudo que fragmenta, desintegra, violenta, perverte e distorce a vida é morte. Neste sentido, a missão com jovens em situação de risco e em comunidades de periferia envolve o testemunho e a ação da ressurreição: beleza, amor, alegria, sabedoria, plenitude e justiça.

2) Aborde a dura realidade destas comunidades sob uma visão de mundo reformada: criação-queda-redenção-consumação ou seja, quando olho pro rosto de um menino que reproduz a violência de sua família, não vejo uma criança indisciplinada, mas um ser a imagem de Deus (por isso digno do amor) trincado pelos efeitos da queda. Trincado, mas ainda digno do evangelho e da grandeza da ressurreição de Cristo, filho da ira, mas filho de Deus em potencial. Nossa missão por isso é esperançosa, pois pela esperança, sabemos de que alguma forma o que fazemos redundará em glória para Deus na consumação/restauração de todas as coisas. Não posso deixar de amar, pois é criação. Não posso ser utópico, pois há queda. Não posso ser pessimista, pois há esperança.

3) Intervenções comunitárias precisam ser carregadas de intencionalidade educacional. Se há intento pedagógico, há uma antropologia filosófica clara. Ou seja, se o homem é um ser em estado de inacabamento, que tipo de homem desejamos formar nestes adolescentes e jovens? Um homem do consumo? Um homem do conhecimento? Um homem integral? Um homem restituído de sua dignidade como filho de Deus? Sem clareza a respeito de que homem intentamos formar, a intencionalidade educacional fica difusa ou comprometida.

4) Encarnação como princípio missiológico: Se o Verbo de Deus se fez carne em Jesus (Jo 1:14) e se Ele se esvaziou e assumiu forma servil (Fp 3), é um mandamento que todo vocacionado nestas comunidades se revista da linguagem, da realidade cultural e de sua própria humanidade. Sua encarnação é simultaneamente contextualizada e subversiva, pois afeta estruturas pecaminosas e iníquas Encarnação missiológica, significa que não olho de "cima pra baixo", eu desço a montanha como Moisés, com as "tábuas da palavra" em mãos. Missão é tradução, ou nos termos de João Calvino, envolve uma "acomodação" da linguagem a fim de tornar grandes verdades compreensíveis a um público que vive outra realidade cultural. Daí, o vocacionado em comunidades com esta realidade, deve se valer de toda sua criatividade e recursos, para comunicar com clareza a mensagem do Reino em Cristo em toda sua plenitude.

5) A mensagem do Reino é comunicada de forma integral, em algum sentido, a ressurreição é a Nova Criação (N.T. Wright), se assim o é, é inerente ao evangelho: a salvação, cultura, justiça, sabedoria, beleza, plenitude, saúde, educação, responsabilidade ética, cidadania e por aí vai.

6) Amor... amar envolve um princípio de hospitalidade. Um tratamento bíblico de que cada pessoa é um mundo, cada pessoa é um universo em potencial. Amar é romper com o tratamento massificante (tão recorrente em instituições públicas) e ver em cada indivíduo um universo, um mundo próprio e singular. Amor significa derramar sua vida, sua energia, seu tempo, sua disposição, seu calor pelo outro. Esta deve ser uma meta constante...

São princípios dinâmicos, não-abstratos, conectados com a prática, apegados com a rotina de trabalhos de natureza sócio-educativas nestas comunidades.

Que possamos prosseguir neste alvo e perspectiva de que Jesus Cristo é o agente principal de transformação destas vidas e comunidades.

5 comentários:

Paulo Dib disse...

Primo,

Concordo plenamente com os princípios listados sobre missiologia. É isso mesmo!

Já passou da hora da igreja brasileira desempenhar o seu papel de Sal e Luz. Sem ficar escondida e "se santificando" em um pietismo sem fim. Buscar somente para sim e dar de ombros para o mundo.

Resumindo, deixo o pensamento de Arthur F. Glasser:

"O desenvolvimento da fé individual e interior deve ser  acompanhado por uma obediência solidária e exterior ao mandato cultural extensamente detalhado na Santa Escritura. O mundo deve ser servido, não evitado. A justiça social deve ser promovida, e as questões de guerra, racismo, pobreza e desequilíbrio econômico devem se tornar uma preocupação ativa e participativa daqueles que professam crer em Jesus Cristo. Não é suficiente que a missão cristã seja redentora; ela também deve ser profética."

@igorpensar disse...

Fala primo,

Cara, eu estou tão feliz de vê-lo crescendo em graça e conhecimento. Persistindo em manter uma fé simples, cristocêntrica entretanto amparada pelas Escrituras e por boa teologia. Continue assim cara... e obrigado por compartilhar o trecho do Glasser.

Em Cristo,
Igor

Metushelach Cohen "מתושלח" disse...

IGOR,

Agradeço a D-us, por você ter encontrado um rumo em sua vida, orei muito por isso, é muito bom lhe ver no caminho da praticidade da Palavra de D-us, me desculpe falar, pois por algum tempo a subjetividade entremeada em suas palavras me preocupou.

A centralidade de Yeshua e o revestimento Dele pelo crente, é o que o você está fazendo agora, colocando em prático o “Verbo”, agindo, seguindo um dos princípios áureos da Torah, a saber a justiça social, e isto é feito de maneira direcionada e dedicada assim como Paulo recomenda em Rm 12.7 “Se é ensinar, haja dedicação ao ensino”.

Saiba que nós aqui, que acompanhamos a sua jornada, torcermos e intercedemos pelas sua decisões, para que elas sejam as mais acertadas e em conformidade com a Vontade de D-us, e saiba ainda que te amamos, amor de irmão mais novo que vislumbra no irmão mais velho um modelo a se seguir, sabemos que devemos nos espelhar Naquele que nos resgatou das trevas, mas nós que subimos degraus um de cada vez temos que ter modelos próximos a cada degrau, e você por muitos degraus nos auxiliou no intento da caminhada.

Fique na Shalom = Completude=Integralidade de nosso Mashiach Yeshua.

@igorpensar disse...

Levy,

Obrigado pelos comentários. Diferente do que muita gente pensa, e receio que isto é reminiscência de um pietismo anti-intelectualista, minha atividade intelectual (razão é graça) está profundamente ligada com minha ação no mundo. Muitos cristão aos superestimarem a prática, acabam sendo consumidos pelo ativismo, achando que o simples fazer é o suficiente. Graças a algumas reflexões e leituras, conversas com amigos sóbrios, e o alinhamento com determinadas perspectivas teológicas (como a teologia do Reino que estudo há 11 anos), transformam meu engajamento no mundo mais significativo.

Continuo lendo livros com ênfase objetiva, mas, leio filosofia, epistemologia, teologia e reflexões, que para muita gente, parece elucubrações especulativas sem sentido, mas são obras e reflexões, que se integram a minha cosmovisão, transformando minha ação em práxis e não em ativismo alienante.

Por isso acho teologia algo tão sério. Acho doutrina algo tão sério. Para mim, teologia errada afeta em algum sentido minhas ações e vice-versa. Se fui dirigido pelo Espírito ao engajamento vocacional na realidade e é lá que o Reino acontece. Isto não aconteceria sem um amparo mínimo de minha visão doutrinária. Muita gente acha que sou "polemista" ou algum tipo de "teólogo de picuinhas" ao contrário, o que pra muita gente parece minúcia doutrinária, tem haver com nossa prática completamente. E me irrita o anti-intelectualismo de alguns segmentos.

Não gosto da dicotomia entre "razão" e "ação", entre "reflexão" e "intervenção". Não há nada mais prático do que uma boa teoria. E não há melhor teoria do que aquela que é iluminada pela prática.

Que Ele nos ajude e obedecer o evangelho, a grandeza de Cristo, como preservada pelo cristianismo, e que tudo se converta para sua glória, sempre!

Abraços!

Tijs e Kelly van den Brink disse...

Olá Igor,

Muito bom o texto, realmente o que precisamos é de uma missiologia sólida para basearmos a nossa ação. Tenho visto, e sofrido com, a realidade de muitos (supostos) cristãos que dizem que se vão em nome de Jesus é a melhor coisa, mas não sabem de onde vem, para onde vão, e nem o caminho a tomar, o que gera uma ação "superespiritual" mas de pouquissíma efetividade, e acaba trazendo um evangelho que se mantém apenas na esfera da religião, não tocando em nenhum outro aspecto da realidade daqueles que sofrem os efeitos da queda em todos os aspectos da sua vida... Precisamos trazer a redenção e não apenas uma "salvação espiritual".

abraço cara,

Tijs