6 de dez. de 2016 | By: @igorpensar

Advento e Graça

Por que o cristianismo, em particular, a tradição agostiniana e protestante, são tão insistentes em relação a salvação pela graça? A noção de que os homens são salvos gratuitamente independente de suas obras. Por uma razão simples: coerência evangélica.
Se Cristo é o que está preservado nos quatro evangelhos (Mateus, Marcos, Lucas e João), ele não pode ser meramente um mestre ou um exemplo moral. Ele é maior do que nossa razão suportaria conceber. Em um contexto de monoteísmo estrito a imaginação dos evangelistas não permitiria inventar um Deus Encarnado. Claro, isso tudo torna o drama da salvação, a vinda visível do "EU SOU", muito mais surpreendente: ela implicaria em uma rendição radical, ou seja, desistir de impressionar a divindade com performance religiosa, sacrifício ou piedade. Ao invés disso, ao homem há um convite para abraçar o sacrifício e a oferta dada gratuitamente pelo próprio Deus. Esta é a inversão de todas as religiões, isto é o Evangelho (boa-nova), tem cheiro de Deus.

Para muitos a noção de que Deus nos salvou por graça, vindo Ele pessoalmente para fazer o que não poderíamos fazer, implicaria em um perigoso precedente: as pessoas deixariam de obrar, de realizar algo, cairiam em um tipo de passividade quietista. Porém, a ironia é que a obra de Cristo convoca os santos para obrarem ainda mais, mas por outro motivo, baseado em amor gratuito como gratuito foi o amor que os alcançou. Assim, obras se tornam efeitos e não causa, e é justamente por isso que são boas obras.

A salvação de Deus e as obras dos santos são igualmente graciosas, pois refletem um Deus que não os entrega à ilusão de que se pode fazer uma escada para chegar ao céu, mas que anuncia que Deus mesmo se fez "escada" e habitou entre nós. Como não podíamos abrir este caminho por nós mesmos, Cristo se fez caminho realizando o que não poderíamos realizar.
#advento#solagratia

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