17 de jul. de 2017 | By: @igorpensar

A Janela

Levantou-se ainda vacilante, em uma espécie de limbo entre sonolência e sobriedade. Ali em corpo, pés desnudos que relutantes tocavam o chão gelado, ergueu-se, foi até a janela. Seu olhar vagava como que procurando uma terra a se ir, um destino. Seduzido por suas oscilações, suas matizes e degradês, irrompeu em um suspiro que vinha de lugares virgens, terras raramente visitadas. Aspirou por sentido, mas lamentou por nem sempre ter condições de ver tal mundo sorrindo. 

Com olhar marejado, lamentou não poder eternizar aquele momento, lamentou seu cinismo, incredulidade e o coração embrutecido. Viu cores, formas, nuvens que não lhe eram peculiares. Percebeu que não tinha como ficar entendiado ante tal brincadeira que a graça lhe aprontava. Quis entrar na dança, mas lhe faltava o ritmo, quis solfejar uma cantiga, mas sua voz desafinava. Com um discreto sorriso, ainda constrangido, corou-se diante da glória. Preferiu aquietar-se, e batizado de gratidão voltou-se para seu recôndito, desta vez, trazendo consigo a luz da coreografia que acabara de testemunhar em uma janela.

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