Esta reflexão nasceu de um insigth que tive durante um maravilhoso café teológico com alguns amigos. Bem, este encontro de profundo envolvimento espiritual e intelectual, produz aos seus participantes uma tempestade de conceitos, terminologias e palavras. Como amo palavras! Não as amo por causa de um possível "ar" de sofisticação, mas por causa de sua capacidade de sintetizar e de se conectar com outros conceitos, fazendo pontes e ligações entre idéias.
Em um dos debates, vimos que alguns assuntos estavam indo em áreas, que a priori, não pareciam ter qualquer relação com o eixo temático que estava sendo debatido. Então, para evitarmos esta descentralização, deixávamos de "viajar na maionese" e retornávamos à questão central. Depois de um tempo, íamos novamente para além das fronteiras do assunto e artificialmente voltávamos ao eixo. Percebi que este movimento acontecia com certa freqüência.
Repentinamente me perguntei: Por que todas as vezes que lidamos com temas interessantes e complexos, nossa mente "viaja" por temas periféricos ao eixo temático?

Na verdade se compreendemos um pouco de psicologia sócio-cultural chegaremos à incrível conclusão de que nosso conceitos são organizados dentro de estruturas semânticas (redes semânticas). Nenhum conceito ou idéia que temos estão soltos no cérebro, mas só estão aí porque estão vinculadas a uma teia de outros conceitos, ou como dizem, os conceitos estão grudados em outros conceitos, formando assim uma grande construção de idéias, um 'todo' complexo.
Já falei por aqui no blog sobre pensamento complexo e a nova demanda que surgiu com a Internet, devido a seu grande fluxo de informações e de inovações. Há uma necessidade absurda por um pensamento plástico, fluido e menos linear.
Uma coisa importante. Atualmente lidamos com uma nova modalidade de leitura, principalmente quando lemos um grande volume de textos na tela ou no monitor. Se você já clicou em algum link* pela Internet, com certeza você já está lidando com uma nova modalidade textual denominada hipertexto. O hipertexto criou uma nova categoria de leitura, que implica em uma abordagem estrutural do texto. Não se lê de forma linear, mas leva-se em consideração os vários conceitos presentes naquele texto ligando-os (linking) a outras fontes conceituais.
O que me chama a atenção é que de certa forma a leitura hipertextual vem provocando uma mudança de ordem cognitiva. Durante muito tempo o pensamento era textual, linear, como conseqüência aprendemos a pensar dentro desta estrutura. Porém, alguém que se dedica ao uso freqüente de hipertexto, ou navega em sites de vasta riqueza hipertextual**, pode estar desenvolvendo um pensamento de estrutura hiper-documental. Por isso, não é tão criminal "viajar na maionese" durante algumas discussões, pois enveredar-se por caminhos ditos periféricos, faz parte da riqueza de um tema, é o que torna-o cognoscível, compreensível e parte da grande nuvem semântica que sustentam nossos conceitos.
Vale destacar a contribuição de Lina Morgado e suas investigações sobre o pensamento e o hipertexto. Sua investigação e revisão epistemológica sobre a temática, destaca que alguns pesquisadores salientam as seguintes vantagens do ambiente hipertextual:
[...] permitir diferentes níveis de conhecimento prévio; encorajar a exploração; permitir a visualização de sub-tarefas como parte de tarefas mais globais; e adaptação da informação aos estilos individuais de aprendizagem[1].
Em suma, não me sinto mais desconfortável em "viajar na maionese" durante determinado assunto. Pois esta é a natureza dos debates em mundo cada vez mais complexo, pois encoraja a exploração e o espírito investigativo.
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*Conhecido também por hiperlink ou em sua versão aportuguesada hiperligação.
** Como a wikipedia por exemplo.
[1] MORGADO, Lina. O Lugar do Hipertexto na Aprendizagem: alguns princípios para sua concepção.