31 de dez. de 2010 | By: @igorpensar

Simplicidade e permanência

Reproduzo aqui um texto belíssimo do pastor presbiteriano Ricardo Barbosa de Souza, espero que tirem o máximo proveito de um texto tão inspirador.

Por favor leia este texto, ore a Deus, e permita que o Espírito Santo te guie ao evangelho sem firulas, penduricalhos, simplesmente em Jesus, em uma vida de modesta obediência, amor, generosidade e fidelidade à doutrina de Cristo e dos apóstolos. Liberte-se pela simplicidade do evangelho, sendo simplesmente cristão.

Abraços,
Igor Miguel
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Simplicidade e permanência


Fonte: Site Ultimato

Por Ricardo Barbosa de Sousa

De vez em quando gosto de reler “Cartas de um Diabo a seu Aprendiz”, de C. S. Lewis. Sua habilidade em perscrutar os labirintos da tentação me impressionam. Ele nos ajuda a reconhecer nossa enorme ingenuidade e a profunda sagacidade do inimigo.

Em uma dessas cartas, o Diabo reconhece que o verdadeiro problema dos cristãos é que eles são “simplesmente” cristãos. O laço que os une é a vida comum que eles têm em Cristo. Ele então aconselha seu sobrinho: “O que nós desejamos, se não houver mesmo jeito e os homens tiverem de tornar-se cristãos, é mantê-los num estado de espírito que eu chamo de cristianismo e alguma outra coisa [...]. Substitua a fé em si por alguma moda com colorido cristão. Faça com que tenham horror à Mesma Coisa de Sempre”.

A “mesma coisa de sempre” nos deixa entediados. Ser “simplesmente” cristão, para muitos, não é suficiente. Precisamos de coisas novas. Sempre. Modelos novos de igreja, um jeito diferente de cantar, formas inovadoras de culto, estratégias sofisticadas de crescimento, e por aí vai. Somos movidos pelas novidades, não pela profundidade. Nosso interesse está na variedade, não na densidade.

O reverendo A. W. Tozer, num artigo intitulado “A velha e a nova cruz”, comenta o mesmo fenômeno: “Uma nova filosofia brotou dessa nova cruz com respeito à vida cristã, e dessa nova filosofia surgiu uma nova técnica evangélica -- um novo tipo de reunião e uma nova espécie de pregação. Esse novo evangelismo emprega a mesma linguagem que o velho, mas o seu conteúdo não é o mesmo e sua ênfase difere da anterior”.

O Diabo, na carta ao seu sobrinho aprendiz, diz: “O horror pela mesma coisa de sempre é uma das mais preciosas paixões que incutimos no coração humano -- uma fonte infinita de conselhos estúpidos, de infidelidade conjugal e de inconstâncias na amizade”. A lista poderia se estender, mas o que se encontra por trás desse “horror pela mesma coisa de sempre” é a grande atração pelo novo seguida de uma profunda distração pelo essencial. O que a novidade faz é direcionar nossa atenção para outras preocupações, dando mais valor aos meios e não aos fins.

A formação espiritual cristã sempre requereu, basicamente, obediência a Cristo no seu chamado a proclamar o evangelho, fazer discípulos, integrá-los numa comunidade trinitária e ensiná-los a guardar a sua palavra. Ensiná-los a se comprometerem com o serviço como expressão de amor para com o próximo e com o cultivo e a prática de disciplinas espirituais como oração, jejum, arrependimento, confissão, leitura e meditação nas Escrituras e contemplação.

Não importa o quanto nossas igrejas e ministérios sejam sofisticados. Não importa o volume de novidades e tecnologias que oferecemos. Se no final não encontrarmos as mesmas coisas de sempre, significa que nos perdemos com o meio e não alcançamos o fim.

Existem dois aspectos que considero fundamentais na experiência espiritual cristã: simplicidade e permanência. Quando perguntaram para Jesus como o reino de Deus viria, ele respondeu afirmando o seu caráter discreto. Não viria com grande estardalhaço. Se estabeleceria dentro daqueles que o confessam como Senhor e Rei. Jesus apresenta um evangelho que transforma de dentro para fora. O que o vaso contém é infinitamente maior e mais valioso que o vaso. Ele cresce como uma pequena semente de mostarda. A simplicidade está na natureza própria do evangelho.

A permanência define o caráter pessoal e relacional da fé. Permanecer em Cristo é permanecer ligado como galho na videira. É somente nessa permanência que recebemos de Cristo sua vida e a transmitimos aos outros. Permanecer é mais do que conhecer -- é manter-se em constante e dinâmico relacionamento. As novidades não transformam o caráter; a permanência, sim. Para C. S. Lewis, a maturidade é algo que “todos alcançam na velocidade de sessenta minutos por hora, independentemente do que façam e de quem sejam”.

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Ricardo Barbosa de Sousa é pastor da Igreja Presbiteriana do Planalto e coordenador do Centro Cristão de Estudos, em Brasília. É autor de “Janelas para a Vida” e “O Caminho do Coração”.

4 comentários:

Jefferson CEBNA disse...

Bom dia meu brother...
Nós nos esquecemos muita vezes de que o que mais atrai o Pai, são os filhos, e somos seduzidos a não nos contentarmos com simplesmente sermos e permanecermos filhos .
"Eis aqui, o que tão-somente achei: que Deus fez ao homem reto, porém eles buscaram muitas astúcias.Ecl.7-29"

Rodrigo Rosa disse...

Mano, como a simplicidade dEle nos comove.

Como perdemos tempo tentando refazer algo já feito!! É a troca do fim pelo meio. Essa inversão nos conduz a uma cegueira. É o amor para com a coisa errada, são os olhos que fitam o palpável e, assim, levam o coração junto.

Como já escutei que "Deus escreve certo por linhas tortas!". Que estupidez acreditar nisso. O caminho é de Justiça, Retidão. Somos nós, em nossa cegueira que não enxergamos que estamos fora, longe do caminho. Ele nos trazer e endireitar, significa destituir ídolos, abandonar falsas fortalezas se despir de suas forças e ser conduzido a se submeter a Ele com amor e temor.

Victor Bimbato disse...

Essa igreja é aqui em Brasília, certo?

Victor Bimbato
@choks23

@igorpensar disse...

Sim Victor... é aí sim.

Abraços,
Igor