Por Igor Miguel
Há algumas semanas na FEUSP, tive o privilégio de ouvir uma aula interessantíssima com o Prof. Dr. Miquel Martinéz educador e ex-vice-reitor da Universidade de Barcelona, envolvido com educação de valores e qualificação de docentes. Tive a alegria de ouvir uma afirmação que me chamou muito a atenção.
Ele fez um contra-ponto ao discurso pós-moderno de crítica à educação enciclopédia da "educação tradicional", asseverando que esta contradição transformou-se em uma desqualificação da profissão docente, enquanto um profissional possuidor de boa densidade cultural/intelectual.
Eis uma crítica que compartilho. Não sou favorável a ideia corrente de que a sofisticação intelectual do educador pode ser uma reprodução do "discurso burguês". Infelizmente galgados nessa ideologia, muitos educadores tornaram-se insípidos culturalmente e intelectualmente. A consequência inevitável foi o declínio e a desvalorização da profissão docente.
Não acho que o problema da docência e da baixa qualidade educativa tenha respostas simples, mas qualquer visita à sala de aula de uma escola pública ou mesmo privada, o que se verá são excelentes docentes, mas também péssimos docentes. O problema não é o salário, como se pode imaginar, ao contrário, há docentes mal pagos, mas que são simultaneamente excelentes profissionais.
Sem dúvida, um dos fatores é a falta de reconhecimento social e público da profissão docente. O próprio professor não se valoriza, devido ao fato de que a sociedade não o reconhece, não o reconhece pois há um esvaziamento intelectual, o professor deixou de ser mestre.
Já sei, sei que pode haver algum tipo de reação aqui, uma proposta de retorno ao tradicionalismo pedagógico ou coisa do gênero. Já deixo claro que não! Não concordo com a linearidade pedagógica, com modelos de docência diretiva, com o conteudismo, a marginalização do aluno no processo e a homogeneização institucional. Ao contrário, porém, em processos revolucionários e em reformas culturais, sempre ocorrem perdas e renúncias de conquistas.
Não se pode chamar de “conteudista” um processo educativo fecundo culturalmente, ou que prima pela democratização da informação e o acesso à determinados conteúdos aos alunos. O mundo é permeado de códigos culturais, de valores e a mídia está aí. O grande volume de informação disforme, aos olhos dos jovens expectadores precisa ser criticado, articulado e retro-alimentado. Mas, como fazer isso, se muitas vezes os professores chegam como técnicos da educação, como reprodutores de livros didáticos, se muitos chegam sem articulação e sem consciência de sua autonomia docente.
Sim! O professor necessita se articular, se sofisticar e se tornar um agente criativo e fomentador de ambientes propícios à atividade intelectual, cultural, emocional e ética. Na dimensão intelectual, abordar com critério a realidade; na dimensão cultural propiciar a fecundidade criativa e uma postura interpretativa; na dimensão emocional explorando os potenciais afetivos e na esfera ética a responsabilidade dialógica. Sem sofisticação intelectual, sem emoção e sem diálogo, esvaziar-se-á a atividade docente e dar-se-á a última “pá de cal” o atual status docente.
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