Sou extremamente simpático ao princípio de prudência de Russell Kirk. Porém, com alguma reserva, talvez por causa da noção de Abraham Kuyper de "graça comum". Acho que, o conservadorismo político tem uma dependência escolástica, o que me impede de abraçar o princípio de prudência completamente. Me parece que, biblicamente, Deus permeou sua criação com uma abertura estrutural para mudanças, e por esta razão, viabilizou a possibilidade de transformações políticas e sociais, sim.
Deus não permitiria a possibilidade de reorganização humana, invenção científica, inteligência e capacidades laboral e administrativa, se seu projeto fosse só um perene jardim (só precisaríamos de jardineiros ou no máximo engenheiros agrônomos). Apocalipse 21 me mostra uma cidade, aspiramos por uma civilização que reflita a glória de Deus. Ela virá dos céus, feitas por mãos divinas. Mas, esta aspiração pela Civitas Dei nos move na cidade dos homens para salgá-la. Por outro lado, nossas falíveis, mas ainda dadivosas conquistas políticas como democracia e liberdade de expressão são oriundas de processos que nos colocam em uma sociedade menos pior do que àquela autoritária, centralizadora e totalitária. Graças a Deus!
Tais conquistas não seriam viáveis sem a mínima possibilidade de alguma mudança estrutural, a propósito, historicamente nada orgânica (concepção de reforma no pensamento conservador), mas em alguns casos resultado de intencionais ações políticas (cujas motivações é métodos são totalmente discutíveis). Por outro lado, claro que o princípio de revolução como único meio para o progresso é muito vulnerável. O princípio de prudência é necessário em um mundo fraturado pelo pecado. O progressismo concebe moralmente o ser o humano em uma estima excessivamente elevada, ignorando sua fragilidade espiritual. Por esta, e outras razões, que ainda acho que nosso patrimônio cristão, se bem lido, nos fornecerá uma compreensão alternativa que faça jus à complexidade do fenômeno político e social. Pra mim, o cristianismo tem subsídios para um caminho alternativo para além da sedução progressista e da estagnação conservadora. Precisamos de orientação cristã para uma ação prudente, e uma prudência esperançosa.
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