17 de out. de 2014 | By: @igorpensar

Corrupção Capilar

Já falei por aqui sobre a pobreza moral que acomete o Brasil. Hoje, vendo a notícia sobre motociclistas circulando em passarelas no Rio de Janeiro, que foram feitas para proteger o pedestre de veículos automotores (olhem a ironia), isso ficou ainda mais forte.

O evento representa inúmeras situações de práticas corruptas em estruturas capilares da sociedade brasileira. A corrupção moral em instâncias mais evidentes, onde o poder político e econômico se concentram, reflete apenas a corrupção moral do brasileiro em níveis bem mais palpáveis.

Temos que admitir que nossa pobreza moral é alarmante. Nosso projeto civilizatório é um fracasso. Esta falha está lá em nossa história, religiosidade e vida familiar. Desde pequenos tivemos, em geral, pais e parentes, vizinhos e amigos, que nos ensinaram este "jeitinho brasileiro" (do quintos dos infernos), este mania transgressora, que burla sistemas, que cria atalhos ilegais e que aparecem claramente no esquema "eu-te-indico-você-me-indica". Esta transgressão que nos parece quase inata, mas culturalmente cultivada, está relacionada àquela imoralidade do "fura-fila", do esquema do trocador que pede pra você descer pela frente e ganha parte da passagem, compra e venda de senhas, é um mundo de trambicagens e cambalachos.

Quando se vive em um mundo imoral, se cai inevitavelmente em um esquema moralista. Já falei aqui desta teodiceia exógena, esta tendência latino-americana de perceber o mal como algo desencarnado, presente nas corporações capitalistas etc. Esta tendência que concebe instituições e prédios públicos como ídolos sob possessão demoníaca. Assim, acabamos por terceirizar a responsabilidade. Porém, ainda acho que o mal está aqui em gente como a gente. A presença dele em estruturas objetivas é porque o homem está lá.

Penso que combater a corrupção é de outra instância. O Estado não conseguirá fazer isso, o que ele pode fazer é reprimi-la pelos meios institucionais e jurídicos, a começar, erradicando a impunidade. Mas, nós, que estamos aqui em instâncias mais concretas e encarnadas, precisamos nos engajar na promoção de uma vida virtuosa. Vamos começar por viver uma vida mais significativa, mais ordeira e mais ética. Que possamos promover uma vida de comprometimento, educar nossos filhos a respeitar as relações humanas, leis públicas, regras de convívio humano e a generosidade com os mais vulneráveis. Que possamos nos comprometer com a promoção de uma cultura mais ordeira, pontual e de convívio legal.

Não adianta fugir do Brasil, alegando que o país é corrupto, e ir para o estrangeiro ilegalmente. Não adianta fugir de uma realidade que nós produzimos. Vamos assumir nossas responsabilidades e educar nossos filhos nisso, e parar com este "mimimi" moralista. Não será a escola pública a nos ensinar ética. Capital moral é produzido por instituições que estão aí antes do Estado Moderno: igreja e família.

Chega de gambiarras morais!

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