26 de jun. de 2008 | By: @igorpensar

Deus na Escola. Templos sem Deus?

Por Igor Miguel

Hoje palestrei em uma escola pública sobre holocausto e o conflito árabe-israelense, e me chamou a atenção as impressões de uma professora "evangélica" que me abordou dizendo que deveria falar da Bíblia de forma mais "rasgada", pregar o "sangue de Jesus", tudo isso sob àquela verborragia convencional do neo-pentecostalismo. Segundo ela, falar mais "espiritual" e menos "cultural".

Minha contra-resposta: Por meu discurso ser cultural, não quer dizer que ele é menos espiritual. O fato de não usar o jargão religioso convencional, não significa que minha fala é desprovida de espiritualidade. Não preciso falar o "evangeliquês" ou o "cristianês" para ser compreendido por alunos do Ensino Médio, preciso operar nas mentes com contra-argumentos enraizados na ética judaico-cristã, para minar os fundamentos sofismáticos do mundo moderno que é anti-semita e caminha para a fragmentação da família e dos valores forjados por Deus no homem. A mensagem de Jesus implica em justamente libertar mentes do cativeiro cultural, de uma visão de mundo distorcida.

Falei de ética, falei de vida, falei de paz, política e princípios. Discursei sobre a existência de Deus conduzindo um povo do sofrimento à restauração de seu país, em uma linguagem que professores, alunos e jovens (entre os 17-20 anos) podiam compreender, não preciso levantar uma bandeira confissional ou religiosa, para falar a mensagem essencial, ela foi dita na espiritualidade da cultura.

Acho incrível como os religiosos do ocidente (em geral), despedaçam a realidade, fragmentam o mundo, excluem Deus de tudo e não conseguem perceber que Seu governo se estende a todas as esferas da existência humana.

A espiritualidade não está fora da dimensão cultural. A cultura é manifestação espiritual em sua raiz, impressões de uma alma que quer se religar (religare - religião em latim) com a transcendência de um Deus que governa a história, mesmo que ela pareça caótica.

A referida devota de Cristo, poderia ver as coisas como eu vi, os olhos daqueles jovens brilhando, quase que hipnotizados, algo que buscavam há anos estava ali diante deles, almas sedentas, sujeitos cansados de serem explorados pelo hedonismo que nada custa, salvo para aqueles que se vendem para adquiri-lo.

Deus está profundamente preocupado com esses jovens, preocupado principalmente porque os guetos religiosos falam uma linguagem hermética, um dialeto quase intocável para a maioria deles. Quando se toca essas almas com as palavras certas, com a palavra donde procede a fé, as máscaras caem e finalmente são despidos ante a esperança de que podem ser melhores, que nossas decisões têm conseqüências e que as coisas não são descartáveis como nos ensinam.

Ouvi perguntas, que raramente ouço de religiosos convencionais, ouvi angústias que raramente ouço de sacerdotes e caciques espirituais, ouvi a alma.

Sinceramente, raramente vi Deus de uma forma tão nítida como vi hoje. Realmente nosso templos religiosos precisam melhorar sua espiritualidade. Deus está na escola, só espero que também esteja em nossos templos.

2 comentários:

Alessandra disse...

Igor, gostei muito do seu artigo...E tamb�m acredito que precisamos fazer essa reflex�o sobre "Deus", "religi�o", etc. a partir de uma perspectiva mais cultural, o que dificilmente encontramos na escola e em outros espa�os!.

@igorpensar disse...

Olá Alessandra,

Obrigado por seu comentário. Os vínculos entre cultura e teologia são mais profundos do que se pode imaginar. De alguma forma o impulso do homem pela transcendência, por algo além de sua realidade objetiva remonta tempos remotos e resiste à modernidade. Porém, separar espiritualidade de cultura é um dualismo paradoxal, e que infeizmente o fundamentalismo religioso procura ofuscar.

Valeu pela contribuição e volte sempre!