Pensar...
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A Janela
Levantou-se ainda vacilante, em uma espécie de limbo entre sonolência e sobriedade. Ali em corpo, pés desnudos que relutantes tocavam o chão gelado, ergueu-se, foi até a janela. Seu olhar vagava como que procurando uma terra a se ir, um destino. Seduzido por suas oscilações, suas matizes e degradês, irrompeu em um suspiro que vinha de lugares virgens, terras raramente visitadas. Aspirou por sentido, mas lamentou por nem sempre ter condições de ver tal mundo sorrindo.
Com olhar marejado, lamentou não poder eternizar aquele momento, lamentou seu cinismo, incredulidade e o coração embrutecido. Viu cores, formas, nuvens que não lhe eram peculiares. Percebeu que não tinha como ficar entendiado ante tal brincadeira que a graça lhe aprontava. Quis entrar na dança, mas lhe faltava o ritmo, quis solfejar uma cantiga, mas sua voz desafinava. Com um discreto sorriso, ainda constrangido, corou-se diante da glória. Preferiu aquietar-se, e batizado de gratidão voltou-se para seu recôndito, desta vez, trazendo consigo a luz da coreografia que acabara de testemunhar em uma janela.
Esperança que não se Desmancha
Estamos relativamente convencidos, independente do espectro político, que seres humanos são buscadores de um reino onde podem florescer plenamente como tais. Mas sobre como acessar este reino é onde divergimos.
Para alguns, ele será alcançado levando o indivíduo ao nível máximo de liberdade individual. Para outros, quando a coletividade se afirmar sobre as particularidades teremos o paraíso. Bem, esta é a velha tensão entre universais e particulares.
Nesse balaio, estão cristãos, aqueles que deveriam superar a tentação secular de "imanentizar" (Charles Taylor) suas esperanças, como fazem as duas opções aí citadas. Ou seja, a tentativa secular de procurar respostas na realidade criada e não no Criador.
Cristãos são peregrinos. Eles agem a partir da única realidade que não foi corroída pela mortalidade. Tudo enferruja, se "desmancha no ar", menos o Ressuscitado. Ele não só venceu, mas é causa (Verbo) de toda realidade. Desde sua ressurreição sabe-se que a história tem um destino que não pode ser alterado por paixões ideológicas. Toda tentativa de reforma histórica está fadada ao fracasso, pois não há ação neste tempo que não se deteriore ante a glória do Cristo ressuscitado. Podemos promover algum tipo de melhoramento temporário, e que o façamos, mas em breve ele será subvertido como barro misturado com ferro.
Toda história que se julgue durável deve estar entrelaçada com a história de Jesus Cristo: Ele ressuscitou e voltará. Mas, esta história não se encontra em grandes projetos civilizatórios, experimentos sociais, ideologias batizadas ou discursos produzidos por engenheiros da nova mídia digital. Ela emerge do túmulo vazio! Não é revolucionário, no sentido de que é possível fazê-lo mobilizando forças sociais, é redentivo e providencial. Este reino é uma cidade que desce do céu, não é produzido debaixo para cima, como Babel. Não é torre, é um tabernáculo celestial.
Muitos alegariam: não é este o escapismo evangélico-monástico que queremos superar? Não, esta é a ressurreição que educa o triunfalismo evangélico desajeitado e impulsiona a presença fiel dos crentes em um mundo fraturado pelo pecado. Temos um nome pra isso: esperança.
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